12/06/2021

PARNADA IDEMUNO - 466 a 470



466

Sexta-feira,
11 de Junho de 2021

    Alegria simples: bem dormido, levantei-me às seis & meia do dia novo. Sendo agora as 10 & 12, sinto ter ganhado luz. Não é disparate, é deveras ganho, lucro, proveito, pecúlio, safra, ágio, fortuna. Abençoado pobre, que até do Sol se pensa dono.

467

    As imagens, quando ordeiras, ensinam mente & mão a escrever menos mal. Tem aparecido a do bosquete de cedros (cf. 461 & 465), a qual arrasta consigo a do solitário cedro da infância. O cedro evoca-me o senhor meu Pai. E sem o meu Pai, nenhuma destas imagens teria de quem fazer tela ou pantalha, como de mim faz(em).

468

    Sentado em uma parte mais fresca da casa (lá fora, parece, vai acalorada a jornada), lembro-me, sem esforço nem intenção, de nomes que me são preciosos: Daniel Filipe, Luís Filipe Costa, José Mário Branco, Bernardo Santareno. Sem asneira ou paradoxo, é como pensar em Rodrigues Lobo, Adelino Veiga, Carlos Seixas, Gil Vicente.

469

    Sempre fui afinal aos Correios botar a carta para o José Vicente. A caminho, passei à face do estabelecimento em que trabalhava o meu extinto Amigo Joaquim Assunção. Esse pico de tristura, sacudi-o com a ajuda da caloraça. Já lá vão as jornadas frescas, voltaram já as fortes fornadas. Nos Correios: fila na rua, ao sol. Gentinha irritada & irritante, cuja cercania suportei, aquém-máscara, cerrando dentes que já nem tenho. Lá me aviei, cá me desandei. Na medida do possível (estores oclusos), dá para estar em casa. Disponho de livralhada q.b. Pus a tocar o Nicolau da Cave & os Sementes Daninhas. Há quem viva bem mais precariamente. E com bem mais guita no banco.

470

    M. levou A. a passeio pré-prandial. A. é infeliz com M., mas precisa da fortuna de M. – por isso, A. aluga a sua infelicidade a M. o mais dispendiosamente que pode. Cama-mesa-&-roupa-lavada nunca são propriamente de borla. História velha como o mundo, inventei pólvora nenhuma.
 

Sem comentários:

Canzoada Assaltante