22/02/2021

PARNADA IDEMUNO - 65 a 67

© DA.


65

Domingo,
21 de Fevereiro de 2021

    Vi hoje alguém que, vivo, não devo voltar a ver. É pouquíssimo provável, para ser o mais franco. Sofre de maleita grave, que no rosto traz inscrita a sépia. Recolhi depois a casa, onde contristadamente almocei. A morte-certa sentida como contumélia – não a própria mas a alheia, se a alheia ceifa alguém de bondade. E era o caso desta manhã dominical já extinta.
    No televisor, rapazes milionários correm de calções para escoucinhar a bola. O filme é comentado por dois papagaios iletrados que zurram interjeições eufóricas. Em Lisboa, um idiota do PS quer ver demolido o Padrão dos Descobrimentos – a esta caca sustentamos em sacrossanta democracia.

66

    Homem em fotografias dispersas pela mesa da saleta.
    Chegou o seu tempo de impotência sem resignação à vista.
    As imagens ilustram o tempo deveras perdido, ilusoriamente vencido aqui-ali, muitos são ora mortos os então vivos fotografados.
    Nem as nove da noite são já, já a sombra uniforme enregela a bela vacuidade do mundo. Doutrina nenhuma. Estores cerrados. Não sei ainda que fazer ainda deste homem.

67

Décimo Manuel Horta Galeano
Homem da terra como os bichos
De silente olhar tal os mochos
Dono alfim de seu destino.

Nora Maria de Vera Alícia
Dama de teres, haveres & quereres
Prantou queixa na polícia
D’encontro a duas mulheres.

Não na vida se hão-de cruzar
Cada um à sua vai
Esta história que contei
Já não tem mais que contar.



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Canzoada Assaltante