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Sexta-feira,
12 de Fevereiro de 2021
Apareceu uma rapariga de vint’&poucos contando alguma coisa de seus primeiros anos em zona manhosa da banda-d’além da capital. Parece, move-a hoje um entranhado amor à natação-sincronizada, afeição que partilha com amigas de Almada, Amadora, Algés, Linda-a-Velha, por aí.
Da carruagem do metro onde ela vai, apeia-se um rapaz caboverdeano já adiantado em seus sessentas. Vai almoçar à Alameda, em uma casa-de-pasto a que afluem ilhéus daquela ex-colónia. O serviço é bom & barato, mormente bacalhau na brasa, chouriça na mesma, coisas assim que não dão grande trabalho.
Isto acontece em 1995, tenho-o presente porque o confinamento deste segundo ano-chinês-viral me faz revolver leiras & prateleiras mentais há muito em pousio. Sei que não estamos em 1995: nós, não – mas eu, sim. Vou descendo a Almirante Reis, venho docemente fatigado do passeio-mirone que dei pelo Cemitério do Alto de S. João. Saudei lá o senhor Ramalho Ortigão & esposa. Desci depois a Morais Soares, fiz o Chile. Fiz o Martim Moniz por não ter cortado, acima, pela Pascoal de Melo até à Estefânia.
Estou ante o amplo Tejo, é gloriosa a manhã. Lisboa é um pecado sem culpa nem escusa. Na noite de Coimbra (ano-chinês-2021), há calmaria imposta pelas circunstâncias. Uma pessoa, sim, uma pessoa habitua-se. Vou por uma Lisboa pessoal que se me volveu portátil, há um quarto-de-século que se me reitera essa cidade.
Na do Arsenal estavam o Armando, o Lucídio, o Vide & o Mário. Andavam na lisboa-vai-ela: copo em cada loureiro, de vez em quando metiam um bolo-de-bacalhau para abafar. Não mais os reverei, tão certo como daqui à Lua não haver escadote: o Armando está no céu, o Lucídio no purgatório, o Vide no inferno & o Mário em Moimenta da Beira a viver com um gajo.
Amanhã continua a ser 2021, as notícias vão ser requentadas das de ontem, as redes-ditas-sociais hão-de formigar na mesma de um tropel parado a uma revolução sem cantores. Não tenho pressa.
Nisto, chego aos Prazeres.
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