© DA.
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Tenho adentrado algumas imagens de (às vezes vaga, outras densa) plenitude. Cada um pode (se calhar deve) dizer de si: “Sou apenas um.” Também: muitos zeros multiplicados (elemento-absorvente).
Pertenço agora – de novo – a um animal. Tenho-me nele. Rotinamo-nos no confinamento desta era. Brincamos muito. Dormimos em cercadura. Proporcionando os dois tipos de existência (humano apud felídeo), as horas dele valem-me anos; os meus anos contam-lhe horas.
Tratei bem de certo quintal. Conservo esse segmento de tempo como eternidade pessoal & intransmissível. Tenho feito muita literatura dela. Sou meu mesmo herdeiro.
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Confundo Budapeste com Praga.
Não é que confunda as cidades.
Confundo as cidades que ele me contou.
Talvez Praga, talvez Budapeste, talvez Viena até.
Odessa? Bergen? Coimbra?
Sei que o conto abrange metade de uma noite.
Estiro-me no divã verde-musgo, anjos de humidade no tecto.
Não chegarei aos oitenta vivo.
Ele estende-me uma chávena de cacau fumegante.
Temos ambos tabaco, estamos prontos.
Ele diz ter sido capaz de estimar alguém.
Uma mulher estrangeira, precisou sem ser preciso.
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