02/02/2021

PARNADA IDEMUNO - 18 & 19


© DA.


18

Domingo,
31 de Janeiro de 2021

    Sequências límpidas de lavadas transitam seu filme por as paredes-telas-pantalhas do quarto onde dorme, come, lê, nada espera. Miúdos saindo da escola, seu contentamento profissional. De cada adulto, a infância fica como Idade Clássica. Estro & astro. Louro panasco ao sol. Ele é João Prumo – João Sebastião Lorde Prumo. Um dos ex-miúdos, tão-só, agora.
    João Prumo, deitado de ventre para cima, mira o cinema que vai pelo tecto. Miúdos saindo da escola. Ele, um deles. A Muda que vendia tremoços-pevides-amendoins-chupas-nogados. Ainda é viva. Não: volta a viver, no tecto.
    Fora, a Natura oferece-se em versão invernal. O frio é de uma transparência de vidro. As luzes públicas pontuam, na vertical, o deserto urbano – deserto por força da contaminação, que obriga ao confinamento.
    Em oposto diâmetro, lida em sua cozinha Isabel Narciso – Isabel Maria Gentil Narciso. Deu-lhe o domingo para cozer pão segundo receita artesanal segredada em família. Agora, que vive a sós, gosta de recordar, pelo sabor do pão, a avó & a mãe. Já não importa ter-se descasado sem filhos. A vida é a vida, é da vida. Sequências & consequências, pois.

19

    Vê-se o vazio através do vazio – isto é: o mundo pela televisão. O esplendor da lixeira. O idiota promovido. A néscia-falante encantada com a própria voz. Global catafonia cacofónica. Já nem sair apetece tanto, apesar de o ar-livre ser a mais natural casa.



Sem comentários:

Canzoada Assaltante