Cinco
Colhi duas rosas.
Tenho duas mulheres. Dei uma rosa a uma, dei uma rosa a outra. Depois, meti-me no comboio e desapareci. Elas ficaram.
Cada uma olha a rosa da outra. A mulher de cabelo ruivo tem a rosa amarela. A mulher de cabelo dourado tem a rosa encarnada. São contemporâneas, as quatro; as duas mulheres e as duas rosas. Vivem em molduras diferentes. Uma vive à chuva, outra vive ao sol. Uma anoitece para que a outra acorde. Uma delas veste um manto de veludo azul diamantinado de estrelas. A outra é uma meda de trigo amarelo sobre campo verde. Ambas são crianças antigas. Além do rubi de lábios, perlados lhes são os dentes. Ambas são de uma tristeza formosa, posto que, a cada uma, uma rosa. E ambas são de uma formosura triste, posto que, em cada uma, uma rosa existe.
E tu, leitor? Tens mulheres? Leitor: sabes onde colher rosas? Sinto muita curiosidade em relação a ti. Sim, claro, somos diferentes. Só o comboio é idêntico, como idêntica é a desaparição. Não é, leitor? Não és, leitor? Olha, vou desvendar-te a pobreza final do meu segredo.
Colhi duas rosas.
Tenho duas mulheres,
Uma chove, outra faz sol.
De rosa amarela, a mulher de cabelo ruivo é a minha vida.
De rosa encarnada, a mulher de cabelo dourado é a minha morte.
E tu, leitor, és a minha viagem.
2 comentários:
sou leitora atenta do Ribatejo, e é com agrado q vejo a sua crónica.
Espero que seja um sucesso pessoal e profissional.
acredito, com muita humildade, q p um escritor o epíteto do prazer, aquando de uma obra, está no feed back. nem q seja uma só alma.
parabéns pelo seu trabalho, que só agora tive oportunidade de conhecer.
Isabela..........." Ming_a"
Gentileza. Obrigado.
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