Alguns sabem que não é a morte,
é a espera por ela.
Algumas casas dentro de jardins secos,
esperam os jardins que elas sequem.
Elas secam.
Um fragor de sangue despenha o dia.
Galinhas poentes cambaleiam de sono.
São perdidos os alguns que vêem estas coisas.
Alguns perdem-se.
Da volta do mercado de Stavanger,
bordando a água sólida do mundo,
alguns esperam em andamento.
O tempo compagina-os.
Tal terribilidade é maravilhosa.
Os caminhos das florestas, como
as avenidas das cidades, assistem
ao levamento deles e delas.
Elas e eles levam-se.
Por mim, confirmo-me em presença
de sucessivos salões de baile abandonados.
Pesados reposteiros, mumificados de pó e da
cor de esquecidas menstruações sentinelam
o acesso ao bufete desertado, à galeria
de cadeiras que se inclinam para a frente
sem ninguém por trás, ao soalho raspado
de tangos guiados pela ginjinha, ao
palco diagonal sobre que uma caixa de
acordeão sem acordeão ensina o óbvio
do corpo e da alma.
Dentro das casas de secos jardins,
alguns
acendem velas ainda,
profanam fotografias,
naftalinam roupas de crianças avoengas,
esperam um cão amarelo que não virá
porque nenhum pó vem,
está.
Há cinquenta anos,
duas crianças ilusórias e inglesas
foram à Noruega.
Tornaram-se postais.
Saíram em 1960 em tradução portuguesa.
Agora, estão na memória de
alguns
– e doem
como sombras
aos que nunca irão
é a espera por ela.
Algumas casas dentro de jardins secos,
esperam os jardins que elas sequem.
Elas secam.
Um fragor de sangue despenha o dia.
Galinhas poentes cambaleiam de sono.
São perdidos os alguns que vêem estas coisas.
Alguns perdem-se.
Da volta do mercado de Stavanger,
bordando a água sólida do mundo,
alguns esperam em andamento.
O tempo compagina-os.
Tal terribilidade é maravilhosa.
Os caminhos das florestas, como
as avenidas das cidades, assistem
ao levamento deles e delas.
Elas e eles levam-se.
Por mim, confirmo-me em presença
de sucessivos salões de baile abandonados.
Pesados reposteiros, mumificados de pó e da
cor de esquecidas menstruações sentinelam
o acesso ao bufete desertado, à galeria
de cadeiras que se inclinam para a frente
sem ninguém por trás, ao soalho raspado
de tangos guiados pela ginjinha, ao
palco diagonal sobre que uma caixa de
acordeão sem acordeão ensina o óbvio
do corpo e da alma.
Dentro das casas de secos jardins,
alguns
acendem velas ainda,
profanam fotografias,
naftalinam roupas de crianças avoengas,
esperam um cão amarelo que não virá
porque nenhum pó vem,
está.
Há cinquenta anos,
duas crianças ilusórias e inglesas
foram à Noruega.
Tornaram-se postais.
Saíram em 1960 em tradução portuguesa.
Agora, estão na memória de
alguns
– e doem
como sombras
aos que nunca irão
nem à Noruega
nem a lado algum.
O que as vidas de
todos
não foram,
é na televisão e nos videoclubes
que estão:
finiadolescentes de um Verão perpétuo
maliciando vermutes a espiões elegantíssimos,
cujo crédito é royal em tudo o que for
casino; uma África branquíssima e viva
como uma tulipa de cristal
ilustrada a gazelas de gás na boca
de trepadores leopardos; recados zodíacos
de absoluta garantia escatológica final
quanto ao casamento da costureirinha do Sabugal
(não de Stavanger, nem de Trondheim)
com um herdeiro riquíssimo de Cascais
(não de Oslo, nem de Kristiansund);
ou, melhor, St. Oréans de Gammeville
em vez do Sabugal
e Paris
au lieu da cascalense pasmaceira de
D. Carlos I e último.
Alguns sabem que não é a televisão,
nem o videoclube,
nem a Noruega.
As crianças esperam, depois
secam.
nem a lado algum.
O que as vidas de
todos
não foram,
é na televisão e nos videoclubes
que estão:
finiadolescentes de um Verão perpétuo
maliciando vermutes a espiões elegantíssimos,
cujo crédito é royal em tudo o que for
casino; uma África branquíssima e viva
como uma tulipa de cristal
ilustrada a gazelas de gás na boca
de trepadores leopardos; recados zodíacos
de absoluta garantia escatológica final
quanto ao casamento da costureirinha do Sabugal
(não de Stavanger, nem de Trondheim)
com um herdeiro riquíssimo de Cascais
(não de Oslo, nem de Kristiansund);
ou, melhor, St. Oréans de Gammeville
em vez do Sabugal
e Paris
au lieu da cascalense pasmaceira de
D. Carlos I e último.
Alguns sabem que não é a televisão,
nem o videoclube,
nem a Noruega.
As crianças esperam, depois
secam.
Molelos, tarde de 24 de Junho de 2007
Ilustração: © Maria Helena Abreu
para a edição de Viajando na Noruega
(tradução portuguesa de Alexandre Pinheiro Torres de
The Young Traveller in Norway, de Beth e Garry Hogg).
O original inglês é da Phoenix House, Londres, 1956.
A edição portuguesa é de
Livraria Civilização - Editora, Porto /
Companhia Editora do Minho, Barcelos, 1960.
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