1. Quinta da Cruz
Momento, sim. Isso sim. Quando,
A casa envernizada pelas mulheres:
documento nem voto.
4. Senhor e Filhos - Geração
Quatro crianças dei à geração,
três herdeiras.
A bastarda, amada embora,
levada embora.
5. Os Animais – Memória
Os animais aqueciam a manhã gelada
com a mecânica sã da respiração.
Cheiravam a terra viva.
Comiam como quem se integra.
Tinham olhos cheios de uma memória
igual à das crianças.
Trabalhavam e morriam e nasciam.
6. A Cruz
Casas e terras nomeadas pela obra
crucifixadora. A humidade vegetalizou-a,
não a derrubou. Sinal
deixado por um deus
pedreiro e
ausente.
7. Refeições – Velas, Petróleo
Comemos animais e frutos.
Do mercado, subíamos a carroça
salgada de sal grosso, peixes,
açúcar. Eu caçava, também.
A louça era grossa e pintada
por crianças operárias.
O talher era de ferro vitalício
(encontrareis garfos nas ruínas interiores;
velas, não).
8. O Fogo e a Água – Os Senhores
Era maior, mais alta e mais ao alto
a quinta de meu Pai.
Deixou-me esta para que, nela,
me tornasse Pai
e o deixasse ir.
Fiz, como ele, arder a lareira.
Vi como ele o que chovia.
Vivi como ele.
Como ele, fui.
9. Neve – o Senhor de Botas
Microclima, aqui.
Microverão.
Ameixas, pêssegos: água.
Nevou alguma vez.
Quando nevou, os animais e as mulheres
confirmaram o natal perpétuo de suas
atenções.
Eu calcei as botas,
dei uma volta a ver
a claridade.
10. Casal Antecipado - Dia Sido
Fotos: Quinta da Cruz, Castelões, manhã de 20 de Janeiro de 2007
Textos: Giesta Dourada, Caramulo, noite de 20 de Janeiro de 2007
4 comentários:
O teu tempo há-de ser. A seu tempo. E isto não é benevolência d'amigo.Nem é tão-pouco mera premonição.
PS - Uma das actividades dos poetas é ler os da sua família e treslê-los,não é? Pois é!
É por isso que tenho um certo e salutar distanciamento, em relação à tua poesia, "mon ami".
Um abraço
Manuel
A tua atenção é-me muito gratificante, Manel.
Belo, muito belo. Tudo belo.
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