11/01/2007

Alguns Desgostos e uma Adivinha

Quando ando desgostoso da vida (mais ou menos de domingo a sábado, entre Dezembro e Novembro), não ligo a televisão.
É uma questão de higiene mental. Tornei-me, assim, um analfabeto moderno. E um homem-das-cavernas clássico.
Ao espelho, chego a desconfiar da minha própria sexualidade. Toda a vida gostei de senhoras, mas a Romero, a Guimarães e a Furtado não me tocam um único nervo, não me dobram um único sininho. Enervam-me, mas não naquele sentido.
É claro que o problema é meu. Porque já cheguei a achar piada até ao Malato.
Mais: sou incapaz (absolutamente incapaz) de perceber o que vêem as mulheres no Sousa Tavares.
A Elsa Raposo passa-me mais ao lado do que o euromilhões.
Aquela dos gritos (Júlia Pinheiro, salvo erro) faz-me fugir como um coelho.
As alegadas namoradas do Penim são quase tão desinteressantes quanto o próprio Penim.
Fátima Lopes (as duas) põe(m)-me a milhas do mais ténue vislumbre de felicidade.
A Lencastre parece-me tão atraente quanto uma colherada de óleo de fígado de bacalhau.
Um pêssego é muito mais bonito do que a Serrano. E mais sumarento.
As gargalhadinhas da Nelly Furtado irritam-me quase tanto quanto as gargalhadinhas do Fernando Seara.
Já me coube apresentar numa discoteca a Marisa Cruz. É simpática, coitadita.
Sou completamente impermeável à Maya.
A Cinha Jardim é marciana.
O Balsinha, o Goucha e o Herman, mais o Carlos Castro e a Caneças – pois não sei.
Ainda não falei da Bobone dos talheres – nem vou falar.
O Rogério Samora é tão bom actor como Cavaco Silva. O Diogo Infante também.
O Reininho dos GNR canta tão bem como o Júlio Isidro.
O Represas toca sempre a mesma música de elevador – e mal. Parece uma fotocópia do Sardet, que é uma fotocópia mal tirada do Represas.
Como vos disse, não ligo a televisão. Mas havia aqui uma revista com esta malta toda. Não fui capaz de resistir a folhear tal desfile de vaidades e vanidades.
Ainda bem que me não apareceu a Alberta do telejornal da 2: eu poderia ceder à tentação de dizer mesmo o que penso mesmo dela.
Sei que a Moura Guedes foi posta na prateleira: e sinto pena da prateleira.
Olha, o Jorge Gabriel: a mesma profundidade filosófica do Marcelo, a mesma densidade historiográfica do Hermano.
Espero não voltar a referir qualquer destes nomes em futuras crónicas. Concedo que estas figuras mereçam ser quem são e o que são. É bem feito para elas, aliás.
Não me custa nada admitir a evidência: sou um fulano amargo, pessimista e invejoso. Mas sou muito menos amargo do que a própria realidade portuguesa. Toda ela: a económica, a televisiva, a revisteira, a morangueira, a floribelleira, a educacional, a social, a criminal, a prisional etc. e tal.
Não suporto a frivolidade.
Não cedo um palmo à ignorância deliberada.
Não acredito na bondade do sistema.
Rejeito a mesquinhez.
Tudo o que um padre Melícias diga, está errado para mim.
Tudo o que um padre Borga queira parecer, desaparece para mim.
Como pactuar com um País em que os professores não lêem, os jornalistas não sabem escrever e os telemóveis ligam pessoas vazias a pessoas ocas?
Como ter orgulho em pertencer a um entorpecente vácuo mental em que a nacionalidade se deixou, aliás alegremente, enredar?
Não, eu não sou um dos do Scolari.
Não, eu não apareço nas fotografias como o Paulo China.
Não, não acho nenhuma piada ao Cristiano Ronaldo.
O Mourinho? Mas eu quero lá saber do Mourinho!
Nos hospitais, adoecemos como gado estatístico.
Nos tribunais, sobra-nos a cegueira da estátua e falta-nos a lucidez da lei.
A Casa Dourada e o Apito Pio são uma única mesma coisa.
Nas tabernas, adiamos a vida com carapau encebolado e vinho carrascão.
Nos hipermercados, somos o rebanho dos pés-descalços armados em europeus.
Nas hamburguerias, americanizamos as nossas criancinhas.
Nos cemitérios, somos duas datas.
Não espero que concordeis comigo.
Como disse, o problema é meu. A revista não é. Mas aqui na pastelaria, a um canto discreto, está o caixotinho de plástico para os desperdícios. Adivinhai aonde vai a revista parar, não tarda nada.





Caramulo, 15 de Novembro de 2006

4 comentários:

Anónimo disse...

não há oferta sem consumo é verdade. uma hipótese: de distribuição gratuita uma revista sobre o outro lado da moeda. para haver educação há que educar o gosto.

Anónimo disse...

isso ou uma bomba na sic, na tvi e na rtp. pra começar.

fernando disse...

de desgostos estou farto mas gosto de adivinhas.
deixa-me arriscar:
a revista foi parar ao caixotinho de plástico mas este estava furado.
por baixo do caixotinho vivia uma comunidade de formigas, habituada às migalhas agarradas aos guardanapos sujos e aos restos dos bolos que as avós querem que os netinhos comam à força, que foi obrigada a descobrir nova pastelaria pois o raio da revista tapou-lhes o buraco.

Maria Carvalho disse...

Por mim a revistinha já estava enfiada no lixo! E será que uma fogueira com ela ainda nos aqueceria??!!! Ora bolas! Se calhar nem por isso...

Canzoada Assaltante