25. BOTICA
Leiria, terça-feira, 20 de Setembro de 2011
A loja do prédio antigo sempre foi botica. A sobreloja é ocupada pela viúva do boticário. Ao lado, há uma casa azul com vista do rio, que é verde de outono-ouro. Pela tardinha, a rua mana rumores e aromas que o fresco sublinha entre as asas do nariz e as das orelhas. Uns poucos peões dão a nota da passagem e da efemeridade humanas, a que a botica, em baixo, e o balcão da sobreloja, em cima com seu renque de sardinheiras muito rubras, resistem como podem. A viúva boticária tem em casa, à chama de perpétua bugia, uma pagela da santinha Eduvides. A viúva é brigantina, a miraculada é bávara. Mas isto não é nem em Bragança, nem em München, é noutro sítio, em outro aqui e noutro agora, com vista para o rio.
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Aves contemporâneas de pessoas, árvores que navegam as décadas nacionais como bares a prumo: que mais tenho para anotar? Aprecio os fait-divers criminais das primeiras décadas de Novecentos e das derradeiras do XIX, é verdade; os prosadores de segundo-plano desses tempos também me interessam, é justo – mas as aves, as árvores, as pessoas e um rio são-me o bastante. Esta é a minha verdade mais sincera, escre(vi)vente.
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Preparo agora uma volta ao sol pela terça-feira da Cidade. A luz é total, a sombra possível tenta ser fresca no corpo em moção. (Longe, a Palestina tenta foral de Nação, mas judeus & americanóides não parecem pelo ajuste.) por aqui, a pobreza económica, decorrente da pobreza mental de ricos & pobres, vai perdendo a timidez. Sobra o arrabalde-em-arrebol: e os corninhos ao sol.
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