02/12/2009

Um Corpo para Habitar o Tempo

Pombal, tarde de 2 de Dezembro de 2009



1



Um tempo para habitar o corpo,
dispostos os elementos em torno.
Árvores altas, animais corredores.
Cafés convocando a noite, fontanários.

Senhoras lacadas como cómodas antigas.
Chávenas em que o rubro chá, o fio de mel.
Pontes que despertam a ansiedade.
Colinas reverdecidas do pluvial milagre.

A roda dos outubros, a clara calma
de matinas dadas a bronze sobre cal.
Um ter nascido algum dia em Portugal.

Um corpo para habitar o tempo.







2



Sob cerejeiras, crianças esmeraldam a manhã
imaginada pelo homem condenado ao escritório.

Grandes peixes cobaltam a pele de grandes lagos,
longe da cabeça entre arquivos e teclados.
Picos de neve engessam o frio azul altíssimo
da manhã imaginada pelo condenado.

Um dia, este homem falará.
Uma noite, este homem falirá.







3



Dizemos ébano, dizemos marfim,
granito dizemos e dizemos basalto.

Seremos mármore.







4



Um mármore para desabitar o tempo.







5



E no entanto as crianças,
as cerejeiras, a neve azul
na manhã altíssima,
inabitável.

3 comentários:

iesu disse...

Perante o que acabo de ler, não consigo fazer qualquer rosnadela, o máximo que consigo é ganir, ganir por mais poemas e mais textos de grande qualidade.

Daniel Abrunheiro disse...

Obrigado, caro Iesu.

Anónimo disse...

Coisa linda.

Canzoada Assaltante