Mutatis non mutandis
Desde que proibiram o fumar nos cafés que as mutações sociogenéticas não param de produzir esquisitices. Estou para ver que raio nos vai trazer o Janeiro novo.
Antigamente, como sabeis, Janeiro era o mês do cio dos gatos. O cio normal, quero eu dizer, isto é, gato chorando por gata e gata apimentando gato: sombras furtivas por pátios, telhados, vielas, varandas e varandins. Agora, não sei se vai ser assim. Depois da proibição do cigarrito em tudo quanto é sítio, andam para aí agora a falar no casamento não sei quê gay e coisas assim e tal.
Antigamente, como sabeis, não havia gays. Falava-se assim-assim à boca pequena de pederastas e tal, mas eram todos casados e levavam uma vida como a gente, alguns até eram bancários e professores e tal e coiso. Era no tempo em que, ao contrário de agora, as pessoas punham as poupanças nos bancos para as salvaguardar. Chegava-se a este ponto: em caso de aperto, os bancos devolviam o dinheiro. Saudades.
Mas como ia dizendo, isto vem tudo do fascismozito pseudo-higiénico dos moral-antitabagistas. Se pudéssemos continuar a ver cinzeiros ao pé das chávenas da bica, tenho a certeza de que por exemplo o BPP não fazia o que anda a (des)fazer. Tabaco pago no acto de entrega, mas os produtos expostos não são para consumo da casa, são para consumo do cliente. Queres fiado, toma. Como antigamente. Sim: se não fosse isto de ter de se fumar na rua como toxicodependentes legal-tolerados, não andariam para aí homens a gostar de homens e a quererem à força repetir a nossa asneira-mor, isto é, o casamento.
Mudando o que não devia ser mudado (é o que o título latino da crónica desta semana quer dizer), as chatices redobram. Ele é o mau tempo em Torres Vedras. Ele é Bragança encerrada por causa de tanta neve. Ele é Corroios a armar-se na Veneza do Seixal. Ele é o Código Contributivo de pantanas. Ele é o diabo a quatro a pintar o sete.
Em minha casa fuma-se. Fumamos os dois. Homem e mulher. E vem aí Janeiro.
Janeiro como antigamente.
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