Souto, Casa, manhã de 24 de Dezembro de 2009
Por instantes é feliz imaginando-se um dos Thibault ou um dos Buddenbrook, alguém outro dele diverso, um dos Buendía ou um dos Bloom, outro além deste que vai pela avenida na manhã despovoada, perto do rio mas sem o rio à vista, alguém para além deste tão vulnerável à anunciação de coisa nenhuma, tão poroso ao pano da luz mais fria, um dos Ramos Pinto ou um dos da Bouça.
É feliz por instantes, o peito desagravado pela visão de meia dúzia de palavras finalmente justas, meia dúzia de palavras exactamente seis: gardénia, mercê, fraternidade, conflito, soluço, solução.
Recorda uma mesa de camilha, um serviço de chá, um dos Thibault ou um dos Buddenbrook, noutra vida a páginas tantas. Recorda uma banca larga com louça por pintar, o perfume de aguarrás, as mãos de outro homem em outras décadas que não esta, um dos Buendía ou um dos Bloom, abrindo-se ao estendal da respiração.
Tão longe do litoral, distingue perfeitamente a orla espumada pelo mar, o crocitar agudíssimo das gaivotas, as carretas de madeira ressumando baba de peixe, as crianças pescadoras agredindo cães, estas coisas fazem-no feliz enquanto não é hora de tornar à pensão, um dos Handke ou um dos Santos.
2 comentários:
A minha rosnadela de hoje é para desejar um Feliz Natal.
Obrigado, amigo. Tudo igual, daqui para aí.
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