13/10/2005

Paralex

Quem nos dera a clarividência fosse
como o anis
isto é
para consumo da casa
sou como sabe
um animal ex-tinto
o que mais bem me permite dizer
coisas terríveis e ócuas
soltaram-se-me os cães
round the corner
é uma maneiringlesa de falar
já reparou decerto
na quantidade
de shópópticas que abrem
por que será
será
whatever will be will be
em terra de cegos
quem tem uma lente é mon'arca
noé?
o resto é a vidinha da cidade
o sacrocomércio
jeans carlos magno
pólos amundsen
mas tudo isto já (se) sabe
nem em si cabe
de contente
o conhecimento menos que o reconhecimento
falo daquele
à chuva à porta
na noite do mosteiro
filme que me contou
a par daqueloutro do
outro que tresandava a peixe
fumado injectado
tresandava e tresandou
oito dias depois
à porta do banco
como um pedinte
de migalhas cardíacas
à mesa peitoral da rainha
que cruéis podemos ser
verdade?
os brancos pés em sandalinhas de ouro-pele
as coxas dóricas
os joelhos jónicos
o coríntio púbis
a vulva grega
a cama de hotel esticadasséptica
os sabonetinhos de roubar
a mão que puxa o ombro
o sangue rosando os joelhos
a queixa doce esmagada de fadiga
amêijoas cortando o braço
a imensa normandia para um
desembarque impossível
depois as nossas mães
cativando o fruto de vosso ventre,
jesus.

Na volta da noite
around the corner
o rapaz que desce as escadas
sem sobremesa
as palavras muito aflitas
dentro dele
chamem os bombeiros
despeçam a polícia
era só perdição
não era malícia
e então como sempre
as tardes areadas como tachos
as noites-néon
gintonificadas
um círculo de giz estremava a loucura
lembro-me de um comprido muro
pintado de amarelo-bílis-the-kid
a quimera do brasil
a decência dos aristobailes
o cumprimento de onda
os cavalos também se abatem
horace mccoy
jane fonda na protagonista
antes de lhe dar na corneta
a ela jane
pás cassetes aeróbico-ted-turners
mais o senhor henry james
e o senhor borges e o senhor calvino
palomar para os amigos
e o senhor julio sem acento
cheira a lima a vizinha de cima
a cartaxo o vizinho de baixo
uma andorinha no chile
um albatroz na noruega
e o coiso na áustria
um apartamento em tróia
e um protesto
do meu mais sincero
atenciosamente



Tondela, tarde de 12 de Outubro de 2005

2 comentários:

Anónimo disse...

E fico muito, muito tempo a olhar para longe Senhor, no mais dos absolutos silêncios.

Anónimo disse...

Tudo que vem pode regressar
e nuns breves instantes,
feito tsunami,
tudo destrói...

Canzoada Assaltante