mas à tarde
um imbecil de camisola creme
ladra um monólogo
transcrevo
paga o quê? você por dois euros e pouco já compra uma garrafinha em condições de bom tinto é tudo muito bonito as pessoas falarem batatas a 20 cêntimos e ainda gozam xis quilos paguei xis e ainda gozam c'o agricultor o meu sogro e eu se fosse a rogar pessoal e tractor mais o conserto do tractor que é que se ganhava com isso por meia dúzia de quilos de cachos se fossem todos a pensar como você você havia de ver o que todos comiam eu nunca disse nada não era agora que ia dizer
o imbecil é português
diz hífen entre possa e mos
e queira e mos
e não se cala
e eu lapijo a mijo a minha pátria
átrio de pobres cobres
e de tractores por consertar
recreio de histórias de portugal
vendidas a quilo pelo círculo de leitores
escrevo na maré baixa
patinham-me o caderno caranguejos
de moleirinha mole
sargaço-me todo nos contrafortes da serra
maresia ia mares
lá longe ao cair da tarde
dentes de ferro comedido
gargantilha fátua feérica
no mais
gente histérica
só sei que chove
chove bem
o dia merece a sua lenta cortina louca
onde as mulheres de ninguém espadanam
sua beleza rectilínea
sua botânica beldade
de leopardo convertido à roma de
um verso
final
xis quilos disto.
Tondela, tarde de 11 de Outubro de 2005
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