A 17 quilómetros, a Serra do Caramulo chamava.
A bruma entrapava de gaze a serra.
Só posso chamar-lhe, à montanha, encapelado, endurecido mar alto.
Nas encostas vi pequenos barracos de guarda de alfaias, vinhedos de ouro ferroso, algum milho.
Os vinhedos eram alas de videiras disciplinadas por fio de arame seguro a estacas de madeira fossilizada.
À beira da estrada, descendo a pé, um rapaz de braço enfeixado ao peito.
À beira da estrada, castanhas e nozes postas à venda por uma mulher que descansava a barriga e a muleta à sombra do entrefolhedo.
Castanheiros trepavam como pulmões à boca do ar.
Verdade significa: quantidade de verde.
Um tufo gordo de pinho manso ressoava silêncio como uma catedral.
Remanescia uma possibilidade respiratória, lá no Caramulinho.
A formiga em cima do penedo contemplava o mapa vivo da paisagem.
Depois, como sempre, como para sempre,
desci.
Visões: Botulho-Caramulo, tarde de 2 de Outubro de 2005
Texto final: Tondela, tarde de 3 de Outubro de 2005
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