© DA.
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Café de
esplanada unter-den-linden. Freguesia: velhos & semivelhos que se
frequentam entre a partida de dominó e um que outro funeral.
Delfim, tu
sabes, a propósito do derradeiro substantivo do parágrafo anterior, que o
funeral à chuva consegue ser menos deprimente do que o mesmo ofício quando
realizado à torreira do sol mais abrasivo.
E esta manhã
saturnina, em que estou de folga, é de sufocação. Pelo sol que já arde desde
cedo & porque talvez vá ficar sem trabalho remunerado mais cedo do que previsto.
Por total rejeição das práticas predominantes da/na casa em que trabalho,
talvez saia antes do contratado 19 de Setembro. É deprimente – mas assim tem de
ser. Nada sei do que aí (não) vem. Vou voltar à rés-miséria, pela certa.
Sei muito bem
o quão deprimente tudo isto é – mas, uma vez na vida, não estou a fazer
literatura. Deveras não estou – estou tão-só a mostrar-me em vida, ou seja: em (mais um) falhanço.
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Não há
paracetamol para a dor-de-consciência.
Mas ante
qualquer fideputa – fideputa & ½.
(Eu sei que o
que disse, sim, é rude e feio.
Mas nem por
isso mentira, antes sim presciência.)
Desejos velhos,
quais pétalas pútridas, embolorecem-me.
Viso porém ainda
a palavra-justa: a que mais custa, ó Mãe!,
justiça, justificação
& ajustamento. Merecem-me
dignificação quantas
o/a sejam, mesmo que não muito bem.
Há muito me é
alta a usura da tristeza
Céleres, os
anos; lentos, os dias; minerais, as horas.
Princesa sobre
cavalo violeta: não saberei onde moras.
(O-senhor-toma-alguma-coisa?
Tomo-pois-ah-pois-com-certeza.)
É domingo, essa
noite de vinte-&-quatro horas.
Dou voltas
sós ao poço-da-morte desertado.
Má-sorte, a
de cada deserdado.
(Sim,
Violetéqua, nunca saberei onde moras.)
103
Anunciaram p’ra
esta semana
’ma vaga-de-calor
insuportável.
Eu releio o
meu Camus inimitável.
E faço a
minha cena de pragana.
Nunca fui a
Paris: nem mais a Espanha.
& a
sentir contentamento, ninguém me apanha.
Ai, a energia
ébria dos infantes!
Ai, essas
correrias que fazíamos dantes!
Já não refiro
a infelicidade universal
p’ra particularizar
(sem interesse) a minha.
O Cosmos é Todo-Ele Portugal
– e o
bacalhau quase nem usa espinha.
“Onde-É-Que-Está?
Onde-É-Que-Está?”
– monologo-me
eu em perdições.
Uso-me em
envelhecimento, sem calções.
“Onde-É-Que-Está?
Onde-É-Que-Está?”
Devera eu
talvez perguntar-me de pé:
“Quem-Já-Não-Está?
Quem-Já-Não-É?”
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