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Hermínio
a uma hora & ¼ de começar a trabalhar até que se lhe dê a meia-noite. Antes
isso do que malbaratar as horas (= a vida, as perspectivas) em tascos,
estancos, bordéis & outros antros. Hermínio viu hoje o irmão-sénior de
Delfim. Falaram-se. Dois minutos bem partilhados. Entrementes, o corrente
Sábado dá-se a interlúdios de sol-caloraça (mas sem claridade nítida) & de
moinha-molha-tolos. Ar abafadiço, de tormenta pró-eléctrica. Ou seja: Junho
travestido de Maio. Até à meia-noite, funcionar sem literatura, ser prático, agir-em-conformidade.
Ganhar os cêntimos. A 19 de Setembro próximo, se não antes, a-mama-acaba,
depois, será-o-que Deus-quiser: e Ele não costuma querer grande coisa.)
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Domingodimanche,
céu nublado, temperatur’amena, trabalhar das 16 às 24h00m. A tremura manual (da
dextra mormente) continua exasperando H., que ontem teve de impor-se a um
indivíduo execrável (espécie de faneca-mal-frita) em contexto de trabalho.
Íntima exasperação. Domingo? Sunday até ora sem sun. Talvez pela
hora de almoço H. revisite o cemitério onde tem gente sua a quem pertenceu:
romagem sem fito nem despropósito, enfim, Delfim.
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São rosários escuros
algumas horas
Sem claridade
perpassam tantas eras
Atento à
árida pasmaceira estou & sigo
Farfalha o
arvoredo ao zéfiro da avena.
Nada posso de
encontro à bruteza bípede
O piteco-em-mim
sonhas bronzes afinal de pedra
O piteco-em-mim
sonha ganhos afinal em perda
Aos domingos,
raros os autocarros, raros os vivos.
Aos domingos,
endomingam-se no adro os mortos
Celebram hoje,
de Manuel M., o natalício 5-do-6
Sigo atento a
quanto seja conspiração ou refutação
Contar,
faço-o aritmética & narrativamente.
Grinaldas &
florões, montras polícromas
A preto-e-branco
corre mercurial o Mondego
Duas velhotas
sobraçam nardos, narcisos & nêsperas
Felizes-da-vida,
recebem pensão de seus defuntos.
(P.S.:
É a um céu impiedosamente azul que hoje preside o régio zénite solar. Confesso-te
pois, ó meu gentil gentil-homem Delfim:
Vivo da
claridade pública.)
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