12/08/2022

H. EM BUSCA DELFIM - 56 a 58




56

 

Hermínio a uma hora & ¼ de começar a trabalhar até que se lhe dê a meia-noite. Antes isso do que malbaratar as horas (= a vida, as perspectivas) em tascos, estancos, bordéis & outros antros. Hermínio viu hoje o irmão-sénior de Delfim. Falaram-se. Dois minutos bem partilhados. Entrementes, o corrente Sábado dá-se a interlúdios de sol-caloraça (mas sem claridade nítida) & de moinha-molha-tolos. Ar abafadiço, de tormenta pró-eléctrica. Ou seja: Junho travestido de Maio. Até à meia-noite, funcionar sem literatura, ser prático, agir-em-conformidade. Ganhar os cêntimos. A 19 de Setembro próximo, se não antes, a-mama-acaba, depois, será-o-que Deus-quiser: e Ele não costuma querer grande coisa.)

 

57

 

Domingodimanche, céu nublado, temperatur’amena, trabalhar das 16 às 24h00m. A tremura manual (da dextra mormente) continua exasperando H., que ontem teve de impor-se a um indivíduo execrável (espécie de faneca-mal-frita) em contexto de trabalho. Íntima exasperação. Domingo? Sunday até ora sem sun. Talvez pela hora de almoço H. revisite o cemitério onde tem gente sua a quem pertenceu: romagem sem fito nem despropósito, enfim, Delfim.

 

58

 

São rosários escuros algumas horas

Sem claridade perpassam tantas eras

Atento à árida pasmaceira estou & sigo

Farfalha o arvoredo ao zéfiro da avena.

 

Nada posso de encontro à bruteza bípede

O piteco-em-mim sonhas bronzes afinal de pedra

O piteco-em-mim sonha ganhos afinal em perda

Aos domingos, raros os autocarros, raros os vivos.

 

Aos domingos, endomingam-se no adro os mortos

Celebram hoje, de Manuel M., o natalício 5-do-6

Sigo atento a quanto seja conspiração ou refutação

Contar, faço-o aritmética & narrativamente.

 

Grinaldas & florões, montras polícromas

A preto-e-branco corre mercurial o Mondego

Duas velhotas sobraçam nardos, narcisos & nêsperas

Felizes-da-vida, recebem pensão de seus defuntos.

 

(P.S.: É a um céu impiedosamente azul que hoje preside o régio zénite solar. Confesso-te pois, ó meu gentil gentil-homem Delfim:

Vivo da claridade pública.)


 

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Canzoada Assaltante