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Apesar de
tudo, tenho produzido alguma coisa. Não me refiro a literatura. Refiro-me a
trabalho remunerado. Não há-de durar muito. Procuro já outra coisa em que
consumir & consumar horas ditas úteis. (Con)vivo com aflições-de-dinheiro há
demasiados anos. (Erros-meus-má-fortuna-&-aguardente etc.) Escusado
lamentar-me. Escusado arre(arre!)pender-me.
À saída do
trabalho, hoje pelas quatro da tarde, imergi na vaga-de-calor. Pareci um sapo
sobre lama seca. Ainda assim, dei voltas pró-documentais necessárias. Abonei-me
depois esta esplanada sombria, em que escrebebo à pala de cerveja muito fria.
(Mas tem de ser bebida depressa, caso contrário coze, mesmo à sombra.)
Um Amigo
safou-me de um aperto com a S.S.: sim, tu, boníssimo Delfim. (Não, não a S.S.
de Himmler, sim a nossa própria Segurança Social de pós-25-d´-Abril.) Como
dizem os tesos-proletários-de-todo-o-mundo-Coimbra-incluída (incluindo ateus
& agnósticos): “Deus-te-pague”.
Falta-me
produzir mais para pagar o que & a quem (tanto) devo.
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É muita
gentileza da tua parte
Alguma coisa
eu diga ainda quereres (= creres)
Não és, eu
sei, como o vulgo de mulheres
Que confundem
sentimento com arte.
Tem sido mau
o Verão, mau ’inda ser vivo
Eu sobrevivo
mal à estufa crematória
Por verso,
foi jamais ’ma grande história
A minha, que
aqui suo morto-vivo.
O juvenil
Camus ando ora lendo
Lapijo
sublinhados mui constantes
Nada de
amanhã encanta os antes
Instantes ’ind’assim
eu vou vencendo.
Em Darmstadt
como, digo eu, em Trouxemil
As chances de
morrer são mais que mil
Perpetuidades
só as do absurdo cruel
Que nenhum
céu guarda a ouropel.
Lebre de
Março Montarroio Lagoa
Professor das
Belas-Artes (aposentado)
Vendeu do
Areeiro, em Lisboa,
A casa a
Malinverno Acabado.
Montar ’ma
mulher & montar uma arma
Não são antónimos
tão, quão se pensa nisso.
Uma há que,
mesmo sem balas, não desarma.
E a outra,
com balas, aqui-vai-disso.
Evangelistas-de-rua-porta-em-porta
Cristos americanizados
com sotaque
Pô-los-ia a
todos na rua torta
À garraiada
de bisonte & de iaque.
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