© DA.
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Semáforos
na noite, farolins.
Panças
empanturrando-se de amendoins.
Prostiputedos
levitando, afins
de
fins-de-carreira, anjos-serafins.
Beleza
(& até glória) da sordidez.
Certo
amargo-de-boca feito lucidez.
Ex-meninas
sacolejando celulite,
mesm’assim
acirrando a velhos apetite.
A
tempo, recolhimento.
A
desoras, sem melhoras.
Queixume
nenhum, nenhum lamento.
Isto
tem seus dias, depende das horas.
Coimbra-by-night,
nas mais vis vielas.
Lapónia
nenhuma, nenhum Pai-Natal.
Coimbra-XXI,
mordida, Portugal.
Verdes
enegrecidos, rosas ex-amarelas.
Moçoilas-em-flor,
tenros efebos.
Polícias
bocejando, coca deturpada.
A
cura-da-morte toda por placebos.
E
a soma do tudo: resto-zero-nada.
À
hora do recolher das putas,
é
mais notável a vanidade poética.
Restam-te
um quarto & uma ética,
que
não feres, proferes, ouves ou escutas.
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Muitíssimas
tintas revela a luz do Sábado corrente.
Suporto
a tarde ao favor de uma sombra escolhida.
Há
mais gente no mundo, mas nem sempre tal parece.
Venta
fortemente, os pólenes parecem andorinhas.
Nem
semelhamos envelhecer ante tal paleta.
Irrelevância
de cada um ante a colectiva indiferença.
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Aves
engaioladas na mente infacunda, as palavras:
libertam-nas
o son(h)o & a escrita possível.
Voam
ordeiras como litanias, ecolalias, ora salvas.
São
pombas já, bicam do chão a poesia comestível.
Viver
é rápido, morre-se todavia em lentidão.
Estes
domingos mortíferos, Delfim, são capciosas interrupções.
Em
vidas que os abandonados avantesmam, solenes.
Nem
sei se sempre chove hoje, se não: sei poucas coisas.
E
ser tão-só isto: isto, um homem face ao Tempo irredimível.
O
Domingo declina o seu latim mormente acusativo.
Há
quem tenha nominalmente família, outros nem isso.
Ociosos
cervejam-se sem metafísica em ilhéus consumistas.
O
meu/nosso Mondego, Delfim, é quanto Río de la Plata posso.
Os
meus Mortos rondam-me, a preto-e-branco sempre.
Estão
para cá do infinito, este que circulo com passe-de-autocarros.
E
é em tremura manual que lhes sacolejo a lembrança.
É
de duas janelas o meu quarto-casa: uma tem o fecho avariado.
A
esta, o vento abre-a como fazem as pombas às próprias asas.
No
roupeiro, reservo conservas, cuecas, camisas, desirmanadas peúgas.
E
Charles Dickens, Marguerite Yourcenar, António Osório, Rilke.
(E
no verso anterior, quatro aves livres.)
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Um
de meus derradeiros dentes naturais começou esta tarde a incomodar-me. Não lhe
dei tempo: enforcando-o num atacador de sapato, arranquei-mo sem mais tremuras.
Já não dói nem faz doer.
Espero
um telefonema que não vem. (Antes viesse.)
Espero
certa maquia que se demora. (E me contrista.)
Mas
não esperei que o d(o)ente se me impusesse.
Agi. Fiz (não pela primeira vez) de autodentista.
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