© DA, 5 de Maio de 2012
A minha vida sexual
quase todinha
Esta crónica é uma antecipação. É uma finta, também.
Escrevendo-a, antecipo-me ao telefonema que o sr. Relvas deve andar há que
tempos para fazer a meu respeito e não só ao d(uart)irector deste jornal. Publicando-a,
pois, finto essa inenarrável senhoria da nossa triste praça política. Antes que
ele me ameace com a truculenta exposição público-ribatejana das minhas
intimidades mais pudendas, exponho-as eu (a nu, claro) e fico-me a rir.
Não falo das intimidades físicas: essas são muito cá
comigo e (só) com a minha senhora. Falo, sim, de coitos que tenho sofrido no
cabedal da alma e na cavidade do bolso. Esperneio, é certo, mas de pouco me
vale.
Uma das, por assim dizer, cópulas involuntárias que me
sobressaltam o sossego é essa entidade fantasmática com nome de cadela parida:
a Troika. Sei quem ela é, sei de onde vem, sei para onde quer ir. Mas nós nem
somos como ela, nem vimos da casota dela, nem queremos ir para onde a gaja quer
que a gente vá.
Outra pornografia que, incessante, incansável, me
atormenta – é o que os Portugueses permitem que façam à Língua Portuguesa.
Ando, por exemplo, fartinho de ouvir e ler “pessoas evacuadas” em vez de “o
local foi evacuado de pessoas”. Porque “evacuar” é “esvaziar”. E, que eu saiba,
os bombeiros não são estripadores. Outra obscenidade: “Chamou-o de ladrão”. Ó minha gente: chamar não
rege a preposição “de”. Isso é lá nos brasis. Aqui? Aqui é: “Chamou-lhe ladrão.” Sim, lhe. A quem? A ele. Escolham vocês o político. Complemento
indirecto. À portuguesa. É assim tão difícil não falar telenovelês?
Também sofro alguma coisa com mails anónimos produzidos
por trogloditas que têm para com a liberdade de expressão, opinião e pensamento
o mesmo carinho que Mafoma tem pelo presunto. Vale-me que tais achincalhadores
desconhecem quem raio seja o tal “de”
Mafoma (vêem como é horrível aquele “de” ali?).
O espaço é pouco, pelo que, infelizmente, não me posso
alongar com as demais coisas que me lixam com éfe. Mas sempre quero garantir a
Miguel Relvas que, ao menos enquanto a espúria “princesa de Angola” não comprar
este jornal, hei-de ir esperneando, que é como quem diz dar coices, jogo de
pernas que, pouco erótico embora, ainda assim me permite ao menos dar uma por
semana.
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