© Krunoslav Lisac
Art of the Moment
44.
FALA O PRÍNCIPE DO AQUOSO PRUMO
Leiria, sexta-feira, 11 de Novembro de 2011
Falo com uma mordaça de açucenas na boca
mental.
(Acontece-vos o mesmo, sou disso certo.)
A chuva voltou, volto a ser o príncipe da
chuva.
Ressonância barítona da tempestade sobre a
ópera do mundo: a recebo, amplifico-a
indeterminável, incontável – a nossa vida.
Ao de antes, incerto pretérito ainda.
Adiante, imperfeito futuro já.
Falo de olhos não frios a norte da boca,
ambarinos olhos egressos da noite,
cerosos, avelhentados: de fatigado cão
sombreado.
Mulheres altas e articuladas como andaimes
constroem civilmente nos arredores
pluviais.
Vejo-as que passam urdindo o dia de
cada pão.
Falo a partir da cultura patogénica
em peçonha de pensar o aquoso prumo.
O mesmo é dizer que burel me penso de
estamenha.
Situação de-re-corrente: chove, escreve-se
um
punhado de versos: é como matar moscas
à facada: mas é uma vida, também.
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