Jorge Manuel Leite dos Santos
Abrunheiro
5 de Setembro de 1954 – 23 de Maio
de 1986
JORGE, AS ROSAS PORÉM CRESCEM
Leiria,
terça-feira, 15 de Novembro de 2011
Estás
sentado ainda nessa pedra trabalhada pelo tempo.
É
o futuro que olhas de frente, não o passado.
Desconheces,
felizmente e ainda e para sempre, que
não
há mais irremediável pretérito que o do porvir.
Trataste
bem os sapatos, a roupa parece limpa como
uma
planta depois da chuva, a boca comanda o rosto
a partir da mirada absorta e inocente,
tudo
parece em ordem justa e boa composição.
Deste
lado do espelho, estamos canhotos de sem ti.
Não
mais dextra nos poderiam ser nem a vã vida
nem
a devida vénia, essa gardénia própria
do
ócio e do luto.
Exercemos,
ante o redivivo bolor que, insidioso,
a
teu nome e a tuas horas vem tomando
nos
anos onomásticos e enlutados e ociosos,
uma
cauta nudez cerimoniosa e dorida – ante ti.
Adicionámos-te
ao silêncio insuportável mas suportado
de
profanos que, impermeáveis a Deus, passam
a
vida tementes ao Diabo e às repartições de finanças
e
à outra letra D, que décadas e doenças partilham.
Perdoa:
o nosso tempo não é sagrado, mas consagrado
apenas
aos anjos ca(n)dentes dos filhos, aos tostões
da
conta – como a vida – a prazo, aos rituais marítimos
que
só os marinheiros apeados aterradamente conhecem.
Folha
de árvore antes do regular Outono caída,
masculina
andorinha na Primavera precoce da morte
confusa
de perdida, não justo seria que nos não
perdoasses
o obstinado vício de viver.
Perdoa
devagar, aí sobre pedra sentado, o rosto bonito
adiantando
a cabeça já clássica e intemporal já,
perdoa
devagar, aí para onde vamos, uns com mais
pressa,
outros mais lentos, todos porém por
e
para ti,
que
muito lugar sobra, à esquerda e à direita,
tal
que todos finalmente sorriamos
a
mesma imagem em
justa ordem
e recomposição boa.
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