Odete, Antunes, Fernando, Eliseu, Flora,
Álvaro, Horácio, Susana, Germano, Elói,
Nascimento e Crescimento e Morte e Dora,
Pandora, Raul e a Norte e a Sul viver dói.
*
Uma revoada de crianças azula o adro da
igreja
E o papel em que escrevo o ócio das imagens
Nem sempre é difícil receber os sinais
calamitosos
Pior seria não ter vivido pós tanto morrer
O Carlos da Lurditas ainda não é doente
Amanhã nas ínsuas as tangerineiras
Por enquanto a dignidade é invencível
Faróis acesos de dia por causa da chuva e
das tosses
Pontes e fontes e montes sufragam a água e
as águas da água
Os centros de saúde avelhentam as dores
Tanto milénio para percebermos esta merda –
e nada
Sábado que vem uma prova de vinhos na
Gongorosa
Chega-se-nos o dia enfim em que por fim o
dia
Um restolho de amigos lamenta a cebola
E eu que só queria voltar a casa mesmo sem
asa
Ao fim se chega à noite, se chega a(o) nada
Uma mordaça de açucenas, uma esquina de pão
O barco das tropas-pró-Afeganistão
E este travo na boca a enciclopédias
húmidas
E este salitre no mijo cheio de concertezas
Na minha rua havia antigamente havia
Os senhores Nunes e Sacramento à luz do dia
Quem os apagou, quem foi que apagou o dia
Na minha antiga rua a mente
havia havia.
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