41.
QUANTAS VEZES
Leiria e Pombal, quinta-feira, 3 de Novembro
de 2011
Rapariga pejada no banco da carreira. Vai
do lado do sol. A luz dá-lhe na barriga. Muito jovem. Sardas na zona dos olhos.
Chapéu-de-chuva grená ao lado.
Reformado arquetípico no banco da frente.
Boné, claro. Camisa de flanela aos quadrados castanhos e brancos. Calças de
bombazina leite-creme. Aparelho no ouvido com fugas lentas de cera.
A manhã acaba-se. Da trovoada com chuva ao
sol nítido.
Naturalidade geral dos elementos, mesmo os
construídos: laranjeiras, palheiros, lojas do gado, gado, salão de banquetes,
uma carrinha com a inscrição Gabriel
& Graciete, um cartaz afixado na face de uma capela dizendo Chamados à Caridade, uma
velha-muito-velha esplanada num banquinho ao umbral dela, contentores pretos,
verdes, encarnados, azuis e amarelos no pátio dianteiro dos Plásticos Motassis, uma estufa-viveiro,
empena em hemiciclo de uma vivenda de rés-primeiro-andar, uma palmeira parecida
com aquele boneco dos Simpsons que é criminoso,
o Sideshow Bob, couves pernaltas e patrióticas numa horta breve, a luz
atribuindo soluções construtivas a tudo que, recebendo-a, a vê, um sítio
chamado Casal dos Ovos e outro de nome Águas Férreas, pinhais como paradas
militares, casas e mais casas fechadas da emigração, vulcanização de pneus e de
vidas, o céu enegrecendo a norte deste caderno-livro.
Nisto, chegada a Pombal.
*
Tudo é próximo: a escola a que agora vou da
óptica a que vou a seguir: a vida e a morte, também; a casa mortuária é próxima
da porta, hoje fechada, além da qual Virgínia & Cristina assavam tão bem
frangos.
Só a manhã é tão longe da
noite; vale que a tarde é dentro da noite, quantas vezes.
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