Um (des)gosto
Tenho uma filha com 17 anos feitos que acredita em si mesma. É bom. Também acredita no futuro dela, ela. Já não sei se isso é tão bom. Não sei – e não sei explicar-lhe a minha ignorância.
Tenho outra menina a que pertenço também. Tem 11 anos, vai andando, não sei bem em que acredita ela, vejo-a menos vezes do que deveria.
Uma e outra são portuguesas. Crescem como juncos que o vento matiza de verde. São cidadãs deste tempo.
O problema é este tempo ser destes gajos. Deste país. Desta conjuntura.
A Leonor e a Teresa são exactamente iguais aos vossos filhos e filhas: encarnações floridas com que intentei prolongar a eternidade que o Tempo nos nega. Não o Tempo dos filósofos alemães. Não o Tempo de mármore da Grécia. Não o Tempo cartográfico das caravelas. Este Tempo.
O Tempo dos corruptos/corruptores. O Tempo dos falsos adventistas. O Tempo dos idiotas subidos a lugares de comando. O Tempo dos amigos serem para as ocasiões que fazem ladrões.
A minha Leonor e a minha Teresa foram feitas em Portugal, mas não para ele.
E os vossos filhos e as vossas filhas? Terão sido para gajos de ocasião como estes?
Gostaria de saber o que pensais disso.
Gostaria mesmo.
5 comentários:
Ainda não tenho filhos, mas este é um assunto que nos preocupa a todos. No outro dia ouvia um Sr. que admiro a ser entrevistado e a dada altura a jornalista perguntou: "Que opinião se deve dar hoje a um jovem português que terminou a sua formação e pretende iniciar uma vida?". O homem pensou breves segundos e respondeu: "emigrem".
O cenário é absolutamente fictício, mas o que essa gente merecia era que emigrássemos os nove milhões e tal e os deixássemos aí a roubar-se uns aos outros...
Abraço à distância amigo.
filipe r.
PS:(Tenho-te lido)
Estes gajos e este país não merecem que nasça uma única criança,ó Abrunheiro. Eu, se pudesse, decretava isso.
Também tenho uma filha, meio traquina meio inocente, tem 12 anos. E tenho um filho, muito ingénuo e muito inocente.
Temo pelo muito futuro deles. Antevejo dificuldades enormes para quem viver no futuro cujos alicerces estão a ser lançados por pessoas que num país digno estariam na cadeia.
Tento não demonstrar muita preocupação mas é verdade que estou apreensivo.
Bem precisamos que haja um deus proactivo, daqueles que mais que a moral impõe a ordem.
Albino
Obrigado, amigo Filipe, agradeço o teu comentário e a tua atenção.
Já lá canta no Porco!
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