Fotografia: Regresso a casa, Figueira da Foz, 27 de Outubro de 2008
Texto: Pombal, 3 de Janeiro de 2009
(com alguns versos de 18 de Dezembro de 2008)
(Um acontecimento regional como a chuva pode ser o bastante para uma universalidade pessoal.)
Nada entendo do continuum espaço-tempo.
O mais que sei – é se está a chover ou não.
O espaço é feito de ruas de comércio e de
manchas de pinhal ao longe.
O tempo é quando chove e quando não chove.
Não posso associar-me a outra gravidade
que a de fazer cara séria no café.
Big Bang é (só pode ser) um tiro grande
de filme de cowboys, que aliás deixei
de apreciar.
O nosso pai outra vez novo sem ser em fotografia:
o tempo reverso, espaço da alegria.
Este é o meu trabalho, isto é tudo quanto posso.
Isto é um lírio?
O que é um lírio, além de um ser-flor?
Olha-se o cacho de estrelas no céu de Verão:
o que se olha, além de um céu-estrelas?
Que cor teria o Grande Nada?
E por que seria grande, nada sendo?
Largo da Portagem, Coimbra.
Rua do Mancha-Pé, Pombal.
Largo dos Castanheiros, Caramulo.
Rua Lucília do Carmo, Lisboa.
Largo de D. Duarte, Viseu.
Rua Maestro David de Sousa, Figueira da Foz.
Protões, fotões, melões: tudo é, será, terá
sido.
Mas – e se Nada?
Segundo a organização norte-americana
Gerontology Research Group,
à data de hoje,
3 de Janeiro de 2009,
estão vivos 73 indivíduos com idades acima dos 110 anos,
65 dos quais são mulheres.
Sexo fraco?
Chamou-se Maria de Jesus, nascera num canto da Via Láctea
chamado Urqueira no dia 10 de Setembro de 1893.
Vivia noutra rincão lácteo chamado Corujo, concelho de Tomar,
Portugal.
Morreu ontem
(disse a filha aos jornais que “como um passarinho”)
aos 115 anos de idade.
Descontinuum espaço-corujo-tempo-XIX-XXI?
Sábado, agora, talvez faça caldo verde para o almoço,
talvez asse uma galinha gorda com batatas
e lentidão.
Choveu muito no curso da madrugada,
ouvi da cama esse aplauso prolongado
do mundo a si mesmo,
senti a esponja das árvores dilatando-se
para respirar tanta água,
little bang
mas bang.
Sem comentários:
Enviar um comentário