Eira e roubalheira
Portugal é uma aldeia quase nada cristã mas muito católica onde o roubo é pecado e a roubalheira é uma virtude.
Disse “aldeia”? Queria dizer “quintal”. Não, “eira” é que é. Eira, roubalheira. E chuva no nabal. Nabal, Portugal.
Hoje estou chateado. Dói-me um dente, dói-me o siso, dói-me tudo. Estive ali na sala a ver o telejornal – e pronto, chateei-me. Com esta idade, ainda me não habituei às roubalheiras. Agora querem-me o IRS para sanear as canalhices dos banqueiros, as golpadas dos gestores de fortunas, as manobras orquestrais no escuro dessa escumalha tenebrosa e sinistra que nos infecta o dente, o siso e o nabal.
Ainda por cima, está um frio rijo, dói nos ossos o hálito de uma neve que nem neve é, mas geada de pobres. A parvónia tirita toda, os cães encolhem-se na rua como acordeões sem fole, as mulherezinhas da erva palestinam pelos caminhos muito curvadas, muito pré-históricas, muito fora do Google e do Paraíso e da Covilhã e dos conselhos de administração onde são tramoiadas as roubalheiras.
Eu queria ver o Jeremy Irons, mas só me saem júdices e balsemões. Eu queria saber astronomia, mas só me saem zodíacos e sousas-tavares e TVIquadores. Eu queria que me não doesse o siso, mas nem com copinhos de aguardente amorteço a gengiva.
Se vos pareço impertinente e quezilento, ainda bem: é quezília que supuro, é impertinência que me apetece.
Para piorar o cenário, só me faltava o Natal, a porcaria do Natal. Entristece-me a tristeza dos comerciantes dividindo o ar das lojas com as moscas. Entristecem-me as avòzinhas da erva, os nabos compatriotas e o catolicismo hipócrita cá do quintal. Perdão, cá da eira. Eira, roubalheira.
Bancos privados, “virtudes” públicas.
Resta-me pedir ao Arlindo da farmácia que me empreste um anti-inflamatório e um alicate. E um passaporte de coelho que me leve a dar, de vez, o salto para fora desta eira de ali-babás de colarinho branco-sujo.
Portugal é uma aldeia quase nada cristã mas muito católica onde o roubo é pecado e a roubalheira é uma virtude.
Disse “aldeia”? Queria dizer “quintal”. Não, “eira” é que é. Eira, roubalheira. E chuva no nabal. Nabal, Portugal.
Hoje estou chateado. Dói-me um dente, dói-me o siso, dói-me tudo. Estive ali na sala a ver o telejornal – e pronto, chateei-me. Com esta idade, ainda me não habituei às roubalheiras. Agora querem-me o IRS para sanear as canalhices dos banqueiros, as golpadas dos gestores de fortunas, as manobras orquestrais no escuro dessa escumalha tenebrosa e sinistra que nos infecta o dente, o siso e o nabal.
Ainda por cima, está um frio rijo, dói nos ossos o hálito de uma neve que nem neve é, mas geada de pobres. A parvónia tirita toda, os cães encolhem-se na rua como acordeões sem fole, as mulherezinhas da erva palestinam pelos caminhos muito curvadas, muito pré-históricas, muito fora do Google e do Paraíso e da Covilhã e dos conselhos de administração onde são tramoiadas as roubalheiras.
Eu queria ver o Jeremy Irons, mas só me saem júdices e balsemões. Eu queria saber astronomia, mas só me saem zodíacos e sousas-tavares e TVIquadores. Eu queria que me não doesse o siso, mas nem com copinhos de aguardente amorteço a gengiva.
Se vos pareço impertinente e quezilento, ainda bem: é quezília que supuro, é impertinência que me apetece.
Para piorar o cenário, só me faltava o Natal, a porcaria do Natal. Entristece-me a tristeza dos comerciantes dividindo o ar das lojas com as moscas. Entristecem-me as avòzinhas da erva, os nabos compatriotas e o catolicismo hipócrita cá do quintal. Perdão, cá da eira. Eira, roubalheira.
Bancos privados, “virtudes” públicas.
Resta-me pedir ao Arlindo da farmácia que me empreste um anti-inflamatório e um alicate. E um passaporte de coelho que me leve a dar, de vez, o salto para fora desta eira de ali-babás de colarinho branco-sujo.
3 comentários:
Perdeu-se todo o pudor.
Não sei se católico se simplesmente cristão...
Um abraço
Abraço aí para Lagos, terra linda.
'stava para te encomendar um hino nacional novo para ser cantado nos tempos que passam.
Vai à farmácia e compra "Milagron".A dor vai passar.
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