Organização final: Souto, tarde de 30 de Novembro de 2008
Vozes: Souto, tarde e noite de 27 e manhã e noite de 29 de Novembro de 2008
Vozes: Souto, tarde e noite de 27 e manhã e noite de 29 de Novembro de 2008
I
UMA
As fundações da pessoa carecem de constante vigília.
No lar da mente, sobre a pedra mental, decorre o fogaréu perene da atenção aos díspares monumentos da vida: quase sempre palavras, certas peças de louça, certa inclinação arbórea para um rio que murmura.
DUAS
As madeiras da casa sonham bosques.
Os panos estabelecem distritos de sombra.
Há zonas ínvias, trilhadas ainda assim pelo miniatural amor às coisas e à vida.
Colectores de sombras de pássaros murmuram também: a vitrificação do mundo pela geada, por exemplo.
Outro exemplo: o teu nome dito com tinta branca.
UMA
Levanta-se a beleza de uma vez só na rua: as luzes azuis confirmando as negras, a saúde indeclinável da manhã e do frio, as palmeiras cifrando o crepúsculo – e um café duplo coroçoando a mão direita.
NENHUMA
Colector de sombras de pássaros, não enjeito um epigrama, como o não faria a um casaco de lã, chovendo no teatro como na rua.
II
NENHUMA
Por exemplo o teu nome dito com tinta branca, tinta de água da chuva, num dia cerrado, hoje, agora.
Por exemplo isso.
Quando hoje sair a colher ossos e olhos, terei a trazer ou não um nome?
DUAS
Museus ambulatórios, as pessoas:
Patologias
Cacos romanos
Mourning portraits
Avisos de recepção.
As pessoas:
seus passinhos cuneiformes como se de gaivotas no inverno das praias.
As pessoas:
encerram aos domingos perenes, sobretudo quando chove nas palmeiras.
NENHUMA
Constante vigília lhes doo.
E tanto me doo quanto doo.
UMA
Física, química e mesmerizada melancolia: tudo a lenha usa para arder, na pedra do lar.
E na pedra do teatro como na da rua.
III
DUAS
Tornámo-nos assim:
sombras fátuas, enxofradas, vilipendiadoras até das inertes belezas.
Consumpção mais que assumpção.
E palavrinhas-palavretas de renda de bilros, quando o que falta – era pano cru, pano forte, consútil embora.
NENHUMA
Pelos campos, as freguesias coalham ao soro do frio.
O nosso maior acontecimento diário é o boletim meteorológico, que a noite confirma em sono e em freguesias.
IV e Final
UMA
Constante vigília.
Apelar à fusão.
Receber da poesia a gravidade pueril da poesia.
DUAS
O hermetismo pueril da poesia.
NENHUMA
A inofensiva puerilidade da poesia.
UMA
Bahnhof-Bregenz: um comboio, seis comboios – que não tomarei.
DUAS
Desnecessidade de reconhecer naquelas pessoas, os embarcados, as pessoas de ao pé da porta, na vila velha, tantos países depois, cujo pelourinho arde de puro frio.
NENHUMA
Devassar incólume os espectros.
Exercer uma metrologia.
Tocar o rubi com a unha.
Noite quente, longe do mar, dentro de casa.
Na rua não.
Na rua nunca mais.
A UMA SÓ VOZ, TODAS
Nunca apenas mais ou menos.
Eus ambulatórios, as pessoas
carecem de constante vigília.
Vai partir.
Não tomaremos.
Não tornaremos.
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