23/12/2008

Duas crónicas pouco-nada-zero natalícias


1. Rosário Breve nº 83
25 Dezembro de 2008
in www.oribatejo.pt


DO MINISTRO INEXISTENTE

Um dos ministros do Governo (um governo qualquer dum país qualquer) levanta-se todos os dias manhãzinha muito cedo.
Não fumou nunca na vida, nunca se deu nem cedeu nunca a narcóticos, bebeu sempre pouco e mal. O pai tinha uns hectares de pinhal (hoje eucaliptais, claro), uma pecuária e uma tia em Newark – o suficiente para engenheirar o filho, hoje ministro (um ministro qualquer dum governo qualquer dum país qualquer).
Antes de ministro, o ministro comia sopa. Se hoje só lá vai com consommé, é como na Bélgica (uma bélgica qualquer) chamam ao caldo. De broa para croissant, pronto.
Antes de ministro, o ministro era de um partidelho cola-cartazes de esquerda, barba, joan-baez-e-não-voltas, tó-colante e namoradas desvirgens com tranças e cócegas à la simone-de-vou-voar.
Portugal nunca passou pela cabeça deste senhor: nem antes de ministro, nem agora sinistro, perdão!, ministro. Portugal (um portugal qualquer dum governo qualquer cheio de quaisquer ministros) morreu-lhe ao mesmo tempo que o pai de oitentital anos, cheio de saúde, aliás, o qualquer pai).
O ministro só começou a relacionar-se com Portugal porque Espanha estava – e continua a estar – fechada.
O ministro, depois de portugalizado pelos direitos-humanos-base-áerea-dos-açores e pelo cristianismo-marxista que não há, nem é, nem está (mas teresa-calcutá), tornou-se super-ministro. Como super, invadiu logo as estações de serviço do Iraque (ir a quê?), os tais Açores (a cores) e Esposende, aonde Ruy Belo ia ver desaguar o Cávado “a troco de uma imperial”, nótula que fica sempre bem nas vernissages da Casa Fernando Pessoa e nas incursões de Francisco José Viegas à Feira de Frankfurt e nas de Paulo Portas a outra feira qualquer (de um país qualquer).
Falta-me só dizer que este ministro existe mas não existe.
O Pai Natal também não e também sim.



2. Notícias de Dentro nº 4
13 Dezembro de 2008
in www.noticiasdocentro.net


FARTO DE CÉUS E DE PARAÍSOS

Este Governo vende-nos todos os dias e a toda a hora o Paraíso na terra. A rua, porém, purga purgatórios diferentes, muito diferentes, da propaganda oficial. Encerramentos de fábricas são mato. Direitos laborais, está quieto. Mas em Lisboa, curta metonímia de Pátria, está tudo bem. Em Lisboa e na Covilhã, terra do menino-prodígio que é ouro da cabeça aos pés, pode ser que sim, que o Paraíso seja verdade. Aqui, não.
Felizmente, tenho em casa TV por cabo. Vejo filmes e documentários, já não tenho de engolir oficiosamente, e a seco, as lérias, tretas e mentiras oficiais sobre que se sustenta a sombria “verdade” iluminada do costume.
Perdão vos peço se pareço pessimista, mas tudo me empurra para o pessimismo: as roubalheiras dos bancos, as reformas escandalosas dos altos cargos da tribo, a indiferença infecciosa dos titulares públicos, as falsas “grandes obras”, a aldrabona modernidade: nada, nada, nada, nada.
Quem me quiser contrariar, que o faça com argumentos e provas concretas. Mas duvido que, desta massa amorfa de povo, alguma voz se me insurja. O silêncio é de ouro para quem deveria prestar contas em tribunal. Contas e penas nesta terra, que de Céu ando eu farto.

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Canzoada Assaltante