Esta semana n' O Ribatejo (www.oribatejo.pt)
Outro Poema de Álvaro Sampaio
Às vezes, a vida passa-nos ao lado como uma senhora de outro homem. Isto acontece. Não estou a inventar nada. Às vezes, as palavras formam frutos na boca. E depois, quando vamos a ver, os frutos não são frutos nenhuns, são palavras. Como a palavra boca.
Hoje, estou sentado perante um mármore amarelo. Há coisas de metal ao alcance dos olhos. Tudo isto ocorre num canto de Portugal, o país onde os frutos, onde as palavras, onde a boca. Tenho tanta experiência, que já não invento nada.
A vida também traz homens. Alguns são pais por dentro, amam muito. Eu vejo-os. Eles passam. Pode acontecer contigo. Chegas de peito a um balcão, proferes uma palavra completamente delicada, olham a tua pele, tu sentes que as coisas ainda podem ser.
Vejo o sol ser pintor nas coisas. Isto também acontece muito. Os rapazes cresceram, trabalham nos comboios, são contribuintes, parecem-se cada vez mais com um avô que não conheceram, mudam de cidade, são delicados completamente.
Às vezes, é quarta-feira de repente. Outras vezes, passaram anos. Uma casa arde no meio do campo, os animais fogem soltando frases humanas. Vejo os animais que passam, tiro frutos da boca, algures em Portugal, num canto que canta.
Pode acontecer-te isto. A vida no canto oposto da sala de que não saíste, lá fora o sol pintor, um riso de crianças que ainda não sabem, que não experimentaram ainda.
E então, de repente, os frutos, a boca, a quarta-feira.
Às vezes, a vida passa-nos ao lado como uma senhora de outro homem. Isto acontece. Não estou a inventar nada. Às vezes, as palavras formam frutos na boca. E depois, quando vamos a ver, os frutos não são frutos nenhuns, são palavras. Como a palavra boca.
Hoje, estou sentado perante um mármore amarelo. Há coisas de metal ao alcance dos olhos. Tudo isto ocorre num canto de Portugal, o país onde os frutos, onde as palavras, onde a boca. Tenho tanta experiência, que já não invento nada.
A vida também traz homens. Alguns são pais por dentro, amam muito. Eu vejo-os. Eles passam. Pode acontecer contigo. Chegas de peito a um balcão, proferes uma palavra completamente delicada, olham a tua pele, tu sentes que as coisas ainda podem ser.
Vejo o sol ser pintor nas coisas. Isto também acontece muito. Os rapazes cresceram, trabalham nos comboios, são contribuintes, parecem-se cada vez mais com um avô que não conheceram, mudam de cidade, são delicados completamente.
Às vezes, é quarta-feira de repente. Outras vezes, passaram anos. Uma casa arde no meio do campo, os animais fogem soltando frases humanas. Vejo os animais que passam, tiro frutos da boca, algures em Portugal, num canto que canta.
Pode acontecer-te isto. A vida no canto oposto da sala de que não saíste, lá fora o sol pintor, um riso de crianças que ainda não sabem, que não experimentaram ainda.
E então, de repente, os frutos, a boca, a quarta-feira.
3 comentários:
Sim, "Às vezes, é quarta-feira de repente".
Abraço,
Manuel
" animais fogem soltando palavras humanas"..." tu sentes que as coisas ainda podem ser", merci daniel de nous asseoir avec vous face à un marbre jaune et on écoute ces animaux criant des paroles humaines. Oui, les choses ont leurs propres larmes, as coisas têm as suas proprias lagrimas mas elas podem ser ainda outras coisas. Bjos
lidia
Às vezes … são só palavras, palavras ocas, inventadas, ou não, afinal são as mesmas de sempre, o discurso tanta vez repetido a fazer lembrar o do Alberto Pimenta; às vezes… apesar dos anos que passaram, a vida não traz homens; às vezes…
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