17/03/2008

Tenho Duas Filhas



Breve explicação e longo pedido de perdão a Vós e a Camões

Acontece-me muitas vezes. Ainda esta tarde. É isto: costumo andar pelas ruas a ver de fora o comércio, o das lojas como o das gentes. De repente, vem-me à cabeça, que é o coração mais alto e menos útil que me deram, aquela música maravilhosa que enroupa de éter os já de si tão etéreos e maravilhosos versos camonianos de
Endechas a Bárbara Escrava. Vós sabeis, aquela coisa de Aquela cativa que me tem cativo etc. Pronto, já sei: tenho de escrever qualquer coiseca naquele ritmo tão cativo/a/dor. De pronta antemão conheço que mais valera o não fizera, dado que Camões etc. De nada me vale. Tem de ser. Com meu baixo pedido de perdão ao nosso mais subido Príncipe, Luiz que foi e ninguém repetirá nem calcaneamente, aqui vão estes versalhocos que pela tardinha me acudiram em prol de Leonor e de Teresa, mores formosas rosas minhas.

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Tenho Duas Filhas


Ninas sonhadoras do tempo acordado,
crianças senhoras d’oiro o mais doirado.
Consolo do sol que nas ruas vãs
enchem as manhãs de seu arrebol.

Uma é criança, gentil mansa é.
Outra é também o que uma é.

Riem claramente, mais que a claridade.
De feliz idade, mesmo sendo gente,
são felicidade na vida inclemente.

São tudo o que tenho, que delas sou tido
e que delas venho em ’verso sentido.
Sempre ele há cousas turvas de entender:
pois pode lá ser a terra das rosas?


Viseu, tarde de 17 de Março de 2008

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