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Em Flor
Perde-se muito mais facilmente a dignidade do que a vergonha, sobretudo quando se tem esta daquela. Isto não é uma opinião. É uma verificação. Trata-se de um fenómeno tão comum, que nem fenomenal é. É uma espécie de lei física, de uma determinista determinação socioantropológica que faz dos nossos primeiros semelhantes os últimos a quem queremos assemelhar-nos. Basta sair à rua. Ou então, ficando em casa, ligar o televisor. Dignidade, adeus. Olá, desvergonha.
A ignorância, por exemplo. Antigamente, os ignorantes não ignoravam tudo. Sabiam o que era a vergonha, por exemplo. Agora, têm orgulho da ignorância que trazem lacrada na testa como um ferrete lustral. O esvaziamento anunciado há mais de uma década por Lipovetsky não era um receio reaccionário da dita pós-modernidade, mas uma melancólica (mais uma) verificação.
O nosso povo é fraquinho: já nem com maiúscula se escreve. É lerdo, opaco, rubicundo, grosso, ouvido-emprenhável, foleirote, obtuso, peludo e manso.
A nossa “elite” é uma córnea galeria de fadistas-toureiros, monárquicos sem brasão, pitas com dois tt, filhotes de banqueiros fugindo pelas traseiras com máquinas de multibanco agarradas aos brincos e fregueses do João Pedro Pais com remorsos casapianos.
A política é uma caderneta de cromos colados a cuspo pela parte da frente.
O futebol é uma escura noite de fados pretos.
O chamado Fado Novo está para a nossa identidade como as abóboras estão para o telhado.
A religião anda há séculos a levar a gentinha a ver as amendoeiras em flor, com regresso marcado por pontes cujos desareados pilares patinham no vazio como os pés dos enforcados.
Assim sendo (e é), já ninguém se digna ler, escrever e contar. A língua portuguesa já só consiste numa cassete pirada e pirata dedicada a sublimes disparates como o “derivadó-facto”, o “portantos”, o “é-assim”, o “infectibamente”, o “choque tecnológico”, o “simplex”, a “Ota” e o “têgêvê”.
Depois, ainda há quem se admire de nascermos de ambulância, rumo às amendoeiras em flor.
Perde-se muito mais facilmente a dignidade do que a vergonha, sobretudo quando se tem esta daquela. Isto não é uma opinião. É uma verificação. Trata-se de um fenómeno tão comum, que nem fenomenal é. É uma espécie de lei física, de uma determinista determinação socioantropológica que faz dos nossos primeiros semelhantes os últimos a quem queremos assemelhar-nos. Basta sair à rua. Ou então, ficando em casa, ligar o televisor. Dignidade, adeus. Olá, desvergonha.
A ignorância, por exemplo. Antigamente, os ignorantes não ignoravam tudo. Sabiam o que era a vergonha, por exemplo. Agora, têm orgulho da ignorância que trazem lacrada na testa como um ferrete lustral. O esvaziamento anunciado há mais de uma década por Lipovetsky não era um receio reaccionário da dita pós-modernidade, mas uma melancólica (mais uma) verificação.
O nosso povo é fraquinho: já nem com maiúscula se escreve. É lerdo, opaco, rubicundo, grosso, ouvido-emprenhável, foleirote, obtuso, peludo e manso.
A nossa “elite” é uma córnea galeria de fadistas-toureiros, monárquicos sem brasão, pitas com dois tt, filhotes de banqueiros fugindo pelas traseiras com máquinas de multibanco agarradas aos brincos e fregueses do João Pedro Pais com remorsos casapianos.
A política é uma caderneta de cromos colados a cuspo pela parte da frente.
O futebol é uma escura noite de fados pretos.
O chamado Fado Novo está para a nossa identidade como as abóboras estão para o telhado.
A religião anda há séculos a levar a gentinha a ver as amendoeiras em flor, com regresso marcado por pontes cujos desareados pilares patinham no vazio como os pés dos enforcados.
Assim sendo (e é), já ninguém se digna ler, escrever e contar. A língua portuguesa já só consiste numa cassete pirada e pirata dedicada a sublimes disparates como o “derivadó-facto”, o “portantos”, o “é-assim”, o “infectibamente”, o “choque tecnológico”, o “simplex”, a “Ota” e o “têgêvê”.
Depois, ainda há quem se admire de nascermos de ambulância, rumo às amendoeiras em flor.
5 comentários:
olà daniel,
obrigada, pelo fôlego, o talento,
la clairvoyance...ah, ça fait du bien, quelle santé..et puis quelle fatigue!!!
Cansaços...muitos.
Desvergonha, ignorância, e reenvicada, objecto de orgulho...aqui também hà, aos pontapés!
Temos coisas vergonhosas como o teste ADNpara o regrupamento familiar..., e outras coisas menos graves.Também gostamos muito de desporto, na Gare montparnasse e todas as outras aliàs, esculturas tamanho bem razovel...dois homens, um transeunte(?) outro um controlador da SNCF...levantam para os céus...pelo menos, um jogador de rugby, apoiado com os pés nos ombros dos ditos cujos. O jogador com os braços dirigidos para o Senhor, leva nas maos ...a BOLA, meus!! A BOLA!Pao e circo, se quer saber vejo mais circo e menos pao.
Adorei o texto daniel, deu_me força, lindo a ideia da maendoeira e nascar numa ambulância, eu sei, estou ao corrente.
Vou elr o resto. Beijinhos, Bon week-end, Paris gris, LM
"O nosso povo é fraquinho: já nem com maiúscula se escreve. É lerdo, opaco, rubicundo, grosso, ouvido-emprenhável, foleirote, obtuso, peludo e manso."
Daniel, Magister, dixit.
e eu assino de cruz por baixo
Compartilho tudo. Abraço. Manuel
"É uma espécie de lei física, de uma determinista determinação socioantropológica que faz dos nossos primeiros semelhantes os últimos a quem queremos assemelhar-nos."
Devia deixar isto escrito em pedra...
Na terra onde moro (que conheces bem) verifica-se um facto que se pode relacionar com o que dizes: "é muito mais fácil ser Doutor do que Senhor".
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