I
Não do que os do caudaloso rio maiores riqueza
e roubo capaz sou de conceber.
Corrente fortuna e furto copioso
nos traz, levando-nos em ele, o fluvial deus
de água corredor.
Ainda assim, felicidade a nossa, passando-nos
ao tempo rápido, lento só na dor, pois que
ao menos uma vez integrando curso e duração – e
delas as naturais morte e vida.
II
Desagua de leite o homem em sua mulher,
a que pertence: tal o rio se entrega
ao mar em efémera foz eterna,
sob o céu.
III
Crisóstoma oração usa o desejo silente
em seu embaulado côncavo cordial.
Cardial único lhe cruza a tetrarrosa,
pois uma só direcção é a do desnorte,
do paraíso a leste, sem virtuais oriente
e poente: o vento na água: quem
deseja e quem é, do desejo,
objecto e sujeito: e boca e ouro.
IV
Semietérea é a meã fé
dos hemimortos em vida,
de um vão paraíso ciosos
em o inferno vivente:
diabinhos pressurosos,
cemitéria gente.
V
Glabra face, imberbe olhar,
do adolescente tipo-passe,
recolecto a nostalgia já futura
no momento do flash
para documentos oficiais.
Sou eu este rapazelho escoltado
por grandes colarinhos
e apeitado axadrezado
pulôver sem mangas,
alhures em 70 e poucos?
Fui. Não sou. Voltarei a ser,
na inversa contagem que tudo
a todos retorna – por nada.
VI
Morrerei sempre depois
do dia que tive por
benquisto – ou malvindo.
VII
Apouca-me do alto a visão do vale
à outra montanha estendedor
de enxuto leito que mar algum
quis – ou de querer deixou,
como eu de crer deixei,
apoucado.
VIII
Desaforado linguismo cerce acode
ao homem que, calado, magicando
qual – vida ou morte – mais o fode,
nenhuma conclui, a ambas somando.
Caramulo, manhã, tarde e noite de 23 de Outubro de 2007
2 comentários:
Muito tempo estive sem vira este espaço. Avaria no computador em casa, pois só aqui me consigo concentrar para te ler. Mais uma vez sem palavras perante as tuas...um grande beijo com saudades.
Saúdo o teu regresso, Paula. És sempre bem-vinda.
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