Foto: Iké (Ótó Xané), Verão de 2007
(para o Luiz, maior dos poetas)
1
O Tempo é um escritor de rostos.
Nem todos sabemos ler.
Alguns somos papéis colados pelo verso
à porta do frigorífico: que pena
mais não sermos que listas
de faltas.
Outros somos recados dos pais
sobre o fogão: que aqueçamos
e comamos a dádiva,
noite alta.
Poucos somos epígrafes.
Todos somos lápides.
2
Báltica, cáspia, egeica, minóica,
ciranda cafés a libelinha.
Cossaca, hebraica, mosaica, heróica,
venha então a cervejinha.
À segunda, bebo duas.
Terça-feira, bebo três.
Quarta, tetra, tem de ser.
Quinta, são duas mais três.
Sexta-feira, meia dúzia.
Fim-de-semana, não conto.
Libelinho, mas não conto.
Báltica, cáspia etc.
3
Celofanes vidram passagens do ar:
aéreos hologramas dos defuntos vivos.
Viveu e morreu aqui muita gente:
todos convivemos,
o ar é de todos.
4
As aves do mar escrevem no ar
a caligrafia mais incansável.
Espuma de leite mareja as fragas.
Longe, a pontuação dos barcos
combóia pontos não mais finais.
Viver é uma breve indústria pesada.
Noruegamos filipinas ilhas ferventes.
E no recato do lar, entre detergentes,
naufragamos sonos em roupa lavada.
Nutra o peixe do mar a ave do mar:
alimente o afogado o voador sem se cansar.
5
Toda a história é conjunta.
Toda se escreve sozinha.
O Tempo é um escritor de rostos.
Nem todos sabemos ler.
Alguns somos papéis colados pelo verso
à porta do frigorífico: que pena
mais não sermos que listas
de faltas.
Outros somos recados dos pais
sobre o fogão: que aqueçamos
e comamos a dádiva,
noite alta.
Poucos somos epígrafes.
Todos somos lápides.
2
Báltica, cáspia, egeica, minóica,
ciranda cafés a libelinha.
Cossaca, hebraica, mosaica, heróica,
venha então a cervejinha.
À segunda, bebo duas.
Terça-feira, bebo três.
Quarta, tetra, tem de ser.
Quinta, são duas mais três.
Sexta-feira, meia dúzia.
Fim-de-semana, não conto.
Libelinho, mas não conto.
Báltica, cáspia etc.
3
Celofanes vidram passagens do ar:
aéreos hologramas dos defuntos vivos.
Viveu e morreu aqui muita gente:
todos convivemos,
o ar é de todos.
4
As aves do mar escrevem no ar
a caligrafia mais incansável.
Espuma de leite mareja as fragas.
Longe, a pontuação dos barcos
combóia pontos não mais finais.
Viver é uma breve indústria pesada.
Noruegamos filipinas ilhas ferventes.
E no recato do lar, entre detergentes,
naufragamos sonos em roupa lavada.
Nutra o peixe do mar a ave do mar:
alimente o afogado o voador sem se cansar.
5
Toda a história é conjunta.
Toda se escreve sozinha.
6
(para o Luiz, maior dos poetas)
Não queira viver
o mal quem mal vive.
Mui mal sobrevive
quem não quer viver.
O bem pouco dá,
o mal tudo tira.
Não possa a mentira
ser verdade já.
Pouco dá o bem,
tudo tira o mal.
Viver, afinal,
é morrer também.
Mas, enquanto não,
que queira viver
quem isto souber
e o contrário não.
Terna avezita
que no campo, boa,
nos diz que quem voa
Lua e Sol imita.
Estrelas do céu,
claros diamantes
me disseram antes
que o depois é meu.
Teu será também,
nosso afinal,
que não vive mal
quem vive por bem.
Ovelhas cantantes,
verdes prados claros,
diamantes raros,
imagens constantes
do nosso viver.
Morte é o não vivido,
que o pior morrer
é não ter nascido.
7
Mandas o seixo da palavra aos olhos de alguém,
assistes às onditas nos olhos da pessoa.
Não é?
o mal quem mal vive.
Mui mal sobrevive
quem não quer viver.
O bem pouco dá,
o mal tudo tira.
Não possa a mentira
ser verdade já.
Pouco dá o bem,
tudo tira o mal.
Viver, afinal,
é morrer também.
Mas, enquanto não,
que queira viver
quem isto souber
e o contrário não.
Terna avezita
que no campo, boa,
nos diz que quem voa
Lua e Sol imita.
Estrelas do céu,
claros diamantes
me disseram antes
que o depois é meu.
Teu será também,
nosso afinal,
que não vive mal
quem vive por bem.
Ovelhas cantantes,
verdes prados claros,
diamantes raros,
imagens constantes
do nosso viver.
Morte é o não vivido,
que o pior morrer
é não ter nascido.
7
Mandas o seixo da palavra aos olhos de alguém,
assistes às onditas nos olhos da pessoa.
Não é?
Caramulo, tarde de 15 de Outubro de 2007
1 comentário:
Daniel, o criador inveterado.
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