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Quinta-feira,
4 de Março de 2021
Deitada de barriga na cama, uma fulana de Leste ameaça uma sua homóloga de Oeste. A imagem é fixa, mas dá para sentir o veneno oratório em moção. O esgar daquela & o ricto desta combinam-se na perfeição. Está em causa um homem, claro. Novidade nenhuma, claro. Nem sequer é história interessante. Comecei por começar, nem pensei.
O Sol, filtrado de choupos altos, reverbera diamantes esmigalhados. É modo de dizer. Murmura o ar móvel, marulha no folhedo, nessas moitas rasas que tornam hirsuto o chão. Espontânea maravilha, a mata bebe do rio. É por onde Estêvão deambula a sós. Ei-lo, assomando entre álamos, o cabelo molhado de luz diamantina.
Fachada art-nouveau do cinema ante o rio. Sessão de domingo à tarde. Namorados, cavalheiros solitários, um que outro velhote. O Inverno dá as últimas, pestaneja-se a instância primaveril na lupa do ar. O relógio no vértice da gare ferroviária marca as cinco. Vai-se a chá & pastéis na Império. Nenhuma instruenda de dactilografia sobe hoje à Júlio Lages.
Nos bastidores da fileira de casas-operárias, o monte encimado de cocuruto geodésico. Ampla respiração, torácica euforia. O instante é largo e cheira a musgo. Aqui se te fermenta a literatura.
(...)
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