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Terça-feira,
2 de Março de 2021
Quando os anos já desciam e eu não sabia
Curtir o instante mesmo da vivência
Já então o botão da rosa s’abria
Em escarlate esplendor & violência.
Tudo se nos desfaz areia em dedos
Nada levaremos, nem a nós mesmos
Nutriremos torrões sendo torresmos
Escancarada caveira em terrores ledos.
Divirto-me, enfim, na mansidão imposta. Lisboa manda em nós, Bruxelas manda em Lisboa, Washington manda no que resta. Nada li hoje sobre a Etrúria. Nem sobre a dissensão Freud/Jung. Sem pensar que escolhia, fui escolhendo: The Psychedelic Furs, The Jesus and Mary Chain, The Stranglers, Carlos do Carmo no Olympia. Vi São Cristóvão com cabeça de cão. Recordei Demetrio Stratos – e, por causa deste, recordei Luís Manuel Vide Miranda. Vi o rosto-photomaton de um homem chamado Manuel dos Santos Marques.
O gordo leva o caniche de passeio
Voltinha higiénica a preceito
E se o bicho mijota as flores do alheio
É tal de o seu natural direito.
Na panela pequena fiz a sopa
Que p’ra dois dias dá, nunca p’ra menos
Enquanto ela cozia, dei à roupa
Lavagem a fundo não de somenos.
Tal outrora em mais sérios invernos, a campânula de nublação cerra a luz em redoma imperiosa & imperial. Bondade, presteza, hombridade, gentileza – bens rarefacientes, acho, hoje-em-dia. Do próprio clã mesmo, nem por isso, aliás: acontece a tantos quantos tontos contos. Venho ora da marquise. Não contei dólares pelo caminho. Vim, antes, rimando sozinho.
Desfecha a noite o recolhimento
Flanelas nos defendem do agreste
Não fiz ’inda hoje verso que preste
Desses que dão da vida documento.
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