118
Quinta-feira,
11 de Março de 2021
Era pelo aclive elevadiço ao pico geodésico.
Dava no funcho o favónio frígido benfazejo.
Tudo vinha ao dispor sem ânsia ou desejo.
E sã nos era a mente ao modo físico.
(Foram estas quatro linhas o que disse às vizinhas.)
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Quando em ouro sangrava o poente
E em casa os Pais me ainda eram vivos
Passando de cinco a dez-réis de gente
Já da Beleza meus olhos cativos
Vivi talvez então éter-idade
Morrer nem era então necessidade.
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A estalagem do porto abria portas toda a noite, muitas vezes Rama & eu lá fomos às tantas para grandes canecas de café com pão-escuro, queijo de cabra, manteiga fresca, por aí. Fora, a água murmurava nas ilhargas dos barcos represados. Estivadores & marinheiros, professores reformados, mulheres-de-aluguer, um que outro poeta-pintor – tal era a fauna mor. Rama aí conheceu Beatriz, com quem se entendeu & foi feliz. Eu continuei só – mas só até este caderno, onde encontro quem me entenda a narração. Ou não.
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Li parte do manuscrito que Ângelo deixou em envelope destinado a Noel. É pungentíssimo. Deixa dele contas feitas consigo mesmo. Noel quis que lesse parte dessas linhas. Das que não li, nada lhe perguntei. O respeitinho continua a ser muito lindo. Noel & eu somos velhos agora, Ângelo permanece excruciantemente moço. Várias vezes, o luto quase liquidou Noel. Ele conseguiu força. Não vale a pena escavar mais.
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