16/03/2021

PARNADA IDEMUNO - 131 a 133


© DA.


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Segunda-feira,
15 de Março de 2021

    Jaime Cristóvão Alano Leifilho leva hoje as filhas à escola. A corrente segunda-feira é de sol aberto través o vazio regulamentado. As crianças vão contentes. De seguida, Jaime vai à loja Galho & Dardo. Entra pelas traseiras do estabelecimento. Retira da secretária alguns pertences pessoais, deixa o resto como estava. Na volta, abastece-se de mercearias para a semana toda. À tarde, vai ver a mulher. Cama 13, Enfermaria 0-2, 4.º Piso. Leva-lhe malmequeres de sentinela a uma rosa singular & amarela. É um arranjo bonito. Idália, esmaecida, gosta muito. Jaime já foi buscar as meninas. Bacalhau gratinado no micro-ondas. Televisão até às dez & ¼. Chichi-cama.
    Paulo Rogério Planta Franklin desenha a carvão: duas crianças com um cão. Descalços os três. Lanterna, barril, alpendres de tábuas sujas. Pessegueiro em contrafundo. Outro desenho: casal de cegos à esmola, acordeonista ele, ela de trela a um pastor-alemão. Paulo gosta de cães. De pessoas também, mas menos.
    Talvez Leonardo Miguel Pestana Igrejas venha a ter saudade deste par de anos. Não sei. Quem sou eu para saber? Aliás: quem sou eu? Que é ser?
    Leonardo Miguel Pestana Igrejas trabalhou muito na reorganização dos escritórios cuja firma é sita na Fernão de Magalhães. É trabalhador dedicado, sempre foi. E leal desde a medula. Teve boa-criação dos idos pai & mãe. Reforma-se por idade legal em Maio próximo. Que é ser Leonardo? Não sei.
    Jorge David Jonas Veludo tem a varanda de casa oferta ao rio. As ferramentas, arrumadas por ordem de utilização, na garagem-oficina. Pouco-nada-zero lhe importa o muito-tudo-milhão que digam & maldigam de seus feitos & defeitos. É conforme a seu caminho como à sua caminha. Nada mais, nada menos

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Ainda o rumor de existências alheias dá fruto em escrita
Ainda alguma vida faz por si mesma em plano-aberto
A noite é de frequência diária, a ninguém engana
Cada um com seus tarecos mais ou menos prestes.

Ainda algumas ruas farei em modo través-bosquete
Malficiente o dia em que o não puder assim a sós
Sigo as regras sobrevivenciais de unhas roídas, sim, mas
Mas a palavra-justa ainda acontece, hei só que labutá-la.

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Cultivar & negociar baunilha em Madagáscar.
Isso foi caminho de Rafael Monteiro.
Seis anos, tudo bem; ao sétimo, a doença.
Era maleita sem contemplação nem piedade.
Regressaram-no de avião muito à pressa.
No antepenúltimo dia, exigiu a alta, quis voltar.
Voltar à aldeia original, ali adormecer de vez.
Faz-lhe o irmão a vontade, solícito André.
Rafael desliga-se de tudo na terça-feira, 23h15m.
André vai a Madagáscar, liquida o negócio.

Rafael não pode trabalhar o Tempo, já não.
André nunca quis deixar Portugal, isso nunca.
Também ele é produtor agrícola, única parecença.
André porta diversa índole, mais quieto cariz.
É bicho solitário, não o atrapalha a solidão.
Tratou dos assuntos do irmão o mais limpamente.
Tem uma meia-irmã com quem se não dá.
Rafael tem campa perto da dos pais.
Alma decente, vagueia ao luar ultra-romântico.
Fantasma, cheira vagamente a ilha & a baunilha.

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Canzoada Assaltante