(pedaço metalúrgico que é a alegre alegria retro-ejectora das pombas da Coimbra do coimbrinha, que não a minha...)
149. TRÊS VOOS DO PÁSSARO APEADO
Coimbra, sexta-feira, 21 de Janeiro de 2011
O ouro-metal anela dois dedos esquerdos da mão daquela vendedora fumadora de SG Filtro e boa tomadora de xícaras cafeínas. Fora, o frígido vento de ontem renasce, varador, traspassador, sem comoção semântico. Sinto-me melhor do corpo. A voz vem-me voltando às cordas. Uma não despicienda atenção (menos e menos atónita) ao breve e admirável pequeno mundo desta Coimbra (também) capaz de içar uma estátua morta a um gajo vivo e irrelevante chamado Manuel Alegre (o versejador de Águeda, como lhe chamo na crónica nº 190 da série Rosário Breve, hoje saída em O Ribatejo) e de baptizar um estàdiozeco municipalzeco em Taveiro como Sérgio Conceição (um jogadorzeco de Ribeira de Frades que certa vez cuspiu no rosto de um adversário), em vez de, curialmente, lhe chamar, por exemplo, José Maria Antunes, o já falecido senhor que foi capitão da Académica vencedora da primeira Taça de Portugal, em 1939 (4 a 3 ao Benfica).
19h02m, nO Nosso Café, ao Calhabé.
Algumas noites (recentes), tenho ido à Pedrulha. Revisito amigos, durmo na cama que foi dos meus pais. Quero dizer: que adormeço e acordo em uma neblina amarelada que se chama isto (apenas isto e tudo isto): o Tempo – esse barco sem ancoradouro.
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Refaço a Cidade a voo de pássaro apeado.
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Um tempo e tal depois (22h44m), no Bar-Café S. José, Girassolum. A uma mesa perto, duas rolas aconchegadas (firmes, nédias) fazem o peito de uma pós-adolescente de blusa castanha e cabeleira esfiapada a madeixas de ouropel. Noite de sexta. Ninguém recorda já o Natal, esse carnaval do comércio cristão. Faz muito frio lá fora, Janeiro pune os transeuntes não motorizados. Projecto imediato: visitar o meu Amigo António Lopes Cação nO Cedro dele, Adões (Trouxemil). Tristezazita, por assim dizer, gástrica. Espectáculo do mundo. Rapazes de rala barba, cavalheiros encanecidos tais cúmulos alpinos, casais, des-casais, restos de consumos, esplanada desértica (o vento-gume impera, tremulam os folhedos). Raras crianças. E mesmo assim (mesmo assim), alguma beleza aproveitável: as tais duas rolas sob tecido castanho, os fragmentos frásicos da Língua como peixes-insectos remexendo a água dura do ar januário, os bons sapatos dos pés desta zona média-alta da socioCidade, os cachecóis ainda natalícios cheirando a mães, os óculos de armação finíssima a mais fashionable. Os empregados em camisas negras, aventais negros, calças negras, calçado negro: elegantes. Este instante vertical (sincrónico) no Século. Isto que vai diluir-se, desaparecer, ter-sido, não-ser, nunca-mais-ser.
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