© Helen Levitt
Masks, NY, 1942
Masks, NY, 1942
Habita descaradamente a tua infância quando fores velho.
Há uma idade de maçãs em cada pessoa.
Também há a idade das maçãs: de cada maçã.
Gritinhos deliciados no corpo pequeno.
O silêncio como um terror, também, então.
Então, ainda para cá, o sentido da viagem.
O sentido das palavras viajando para cá, então.
Agora, para lá: do bem e do mal, para lá longe.
Ficam próximas as coisas não de todo ditas,
as só pensadas quando pensar era quase tudo dizer.
Todas essas crianças que deixaste envelhecer dentro.
São hoje cobradoras de seguros, costureiras.
Como pudeste deixá-las vivas?
Agora, para cá: elas voltam, cada noite.
De novo novas, ficam-lhes mal as roupas grandes.
Se te telefonam para desanunciar alguma, proferes,
ou preferes sem querer, palavras habitantes de caixas
onde outrora maçãs. Sentes talvez os ossos delas, seus
pescoços que foram caules de lírio. E seus mijos de lar
da primeira idade, contra um muro comum como um
destino que depois não foi. Olha, calma, não tem mal.
Elas ainda se organizam em natais e iluminações de rua.
As que ficaram na rua para proveito da renda da casa
dos pais, essas ainda te reconhecem o corpo dentro do casaco,
calma, olha, não tem mal. Como sempre, não há-de ser nada.
Há uma idade de maçãs em cada pessoa.
Também há a idade das maçãs: de cada maçã.
Gritinhos deliciados no corpo pequeno.
O silêncio como um terror, também, então.
Então, ainda para cá, o sentido da viagem.
O sentido das palavras viajando para cá, então.
Agora, para lá: do bem e do mal, para lá longe.
Ficam próximas as coisas não de todo ditas,
as só pensadas quando pensar era quase tudo dizer.
Todas essas crianças que deixaste envelhecer dentro.
São hoje cobradoras de seguros, costureiras.
Como pudeste deixá-las vivas?
Agora, para cá: elas voltam, cada noite.
De novo novas, ficam-lhes mal as roupas grandes.
Se te telefonam para desanunciar alguma, proferes,
ou preferes sem querer, palavras habitantes de caixas
onde outrora maçãs. Sentes talvez os ossos delas, seus
pescoços que foram caules de lírio. E seus mijos de lar
da primeira idade, contra um muro comum como um
destino que depois não foi. Olha, calma, não tem mal.
Elas ainda se organizam em natais e iluminações de rua.
As que ficaram na rua para proveito da renda da casa
dos pais, essas ainda te reconhecem o corpo dentro do casaco,
calma, olha, não tem mal. Como sempre, não há-de ser nada.
Caramulo, noite de 19 de Outubro de 2007
5 comentários:
Vou fazendo os possíveis. Sobretudo, nunca deixar perecer dentro de mim a criança.
E por isso mesmo continuo "pagão inocente"
Todos deviamos, permanecer um pouco, dentro da infància. Sei que muitos consideram que viver de memórias não é lá uma grande sabedoria.
E quem quer saber de sabedoria se as memórias nos aquecem o corpo e a mente nas horas mais frias?
A doce expressão, Daniel, deixa, tudo se vai resolver ... Às vezes sinto falta dessa mão forte, desse pilar, desse "deixa, não há-de ser nada ..." misturado com um cheiro doce no ar das roupas da minha mãe ...
"olha, calma, não tem mal" em sermos autènticos perante os outros, sem pretensões a coisa nenhuma a não ser o sentimento de quem lê as palavras que os outros escrevem.
Andava com vontade, foi hoje.
Abraço Daniel
Devo ter dado erros com toda a certeza, as teclas não se moldam às minhas mãos nestas alturas, escorregam, fogem mas
não tem mal, pois não?
Não tem mal algum, Alex. Só bem: palavra que deu, visita que fez.
É bom ser sempre criança nesta ingenuidade de não calar.
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