04/09/2007

Três Românicas



I

Antes de tua manhã, todos os outros na noite
de outros, de que foste depois, não antes.
Teu lírio submerso, como uma palavra molhada,
diagonal cristal afogado na manhã de laranjeiras.

Dentada corrente nas costas sem amor:
corpos prensados em motéis numerados,
onde me atrasámos os três.
Digo: botânicas circunvalações rodeiam o ser.

Andorinha de barro no céu pulverizando-se.
Tigre de louça pastando tinta.
Que haja quem diga, que haja quem sinta.
Quem venha haja, embora afastando-se.

De ti, na emaranhada manhã, na branca tela.
A litorais cronológicos cornearás sem cabresto.
Áleas fidalgas para pobres cavalariças usadas
acordarão em ti franças nem vividas nem contadas.

Antes de tua noite, depois de tua noite.

II

Entrada a tarde em o salão de nossa vida,
tal farfalhuda mulher veludos envergando,
vou por mim compondo versos à medida
da vida mesma que me vai usando.

É um salão de horas, cristais, espelhos.
Serviços argentinos prateiam refrigérios.
De joelhos, homens surgem como cães sérios,
cães que jamais ou nunca aparecem de joelhos.

Soneto da tarde setembrina, estes versos
manam e correm de certas profundezas.
Deve o bicho só conhecer as naturezas

e os universos. Adversos serão os dias
não manadores nem corredores:
serão então as vidas que não vivias.

III

Românica maninha a papilante
juntura silabante de sibila
a pila se não coça adiante
perante bicha feita ou feita fila.

Portuguesa espraia pestaninhas
bronze do mar roda galocremes
se tremes incomodas as maninhas
paroquiais juntinhas a quem fremes.

O milho frito a óleo nos cinemas
tasquinham cuspos à mastigação
o resto são só coisas só poemas
lat(r)ina roma é a nossa condição.



Caramulo, tarde de 3 de Setembro de 2007

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Canzoada Assaltante