17/09/2021

PARNADA IDEMUNO - 770

© Edward Steichen



770

Quinta-feira,
16 de Setembro de 2021

Os dias tinham de vir, estes de menor afluxo de matéria dizível.
Quanto à matéria sensível-pensável, essa é de sempiterna duração.
Pelo calendário, vai-se acabando o Verão devindo inacabável afinal.
A condição da vida corporal continua sujeita a sufocação.
Olhei hoje o meu roupeiro: a roupa-de-inverno espera sine-die.
Não me faltam, é certo, leituras com que resgatar-me à raiva.
Raiva, sim: porque como peixe-fora-d’ água me sinto há anos & anos.
Fecho-me. Leio muito mas é fechadamente que o faço.
De pouco ou nada sou tenente, pego na vida & não sinto grama.
Agora mesmo que afinal algo digo, transpiro porque-sim.
À breve chuva da véspera sucedeu o ferro mordente deste sol.
É doentio, uma pessoa sente-se presa de uma maldição insensata.
Tudo isto são porém lamúrias pouco pudorosas & zero interessantes.
Alguma coisa fiz hoje, enfim, que nem tudo se perdeu, nem tudo foi vão.
A literatura é que foi pouca, dias assim também são gente.

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Canzoada Assaltante