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Quarta-feira,
8 de Setembro de 2021
Têm-se-me enviesado os dizeres escritos ultimamente.
Pasmo muito, cismo muito, fantasio alguma coisa
– mas escrever, nem tanto, não tanto quanto preciso de.
Assim é & tem sido. Finjo a sós que mais ninguém aqui está.
Digo: na mente, pântano a que vão beber os fantasmas.
Estas linhas, escrevo-as cinco-a-cinco para V.ª comodidade.
Não é poesia, parece sê-lo por os quintetos semelharem estrofes.
Não é poesia, semelha sê-lo por as quintilhas parecerem estâncias.
Hoje é dia de ir-a-ver-Irmão, tarde meada, quarta-feira.
E talvez não-coincidência seja o escrever isto na manhã.
Não-coincidência: porque águas celestes tomam a terra.
Há muito não acontecia, pelo que mais valoroso me é.
Imita um inverno que a realidade me interdita.
E eu prefiro a invernal vicissitude ao estival langor.
À janela indo, topei molhada a realidade possível
e fiquei contente como um menino cismático,
desses meninos de antigamente que iam à escola sem esforço,
desses que as máquinas não zombieavam, por assim dizer.
Ainda assim me sinto & me sento, meio-dia dado já.
Raspei a barba devagar, evitei-me como pude o olhar adentro.
Sinto (nitidamente sinto) certa animação no bosquete.
O bosquete das traseiras deste prédio, digo.
O arvoredo está a beber directamente do céu.
As aves mesmas do meu dia-a-dia alegram-se meninamente.
Não é temporal, não é violência, é tão-só doçura pluvial.
Tinha meia-couve a cozer, umas lascas de carne-branca, massa.
Lidei pela casa sitiada pela chuva branda, como transparente fogo.
Daqui a quatro horas, saio, vou ver o Zé, levo calma química.
Levo, também, comida para os gatos de lá do Lar, cinco ou seis.
Torno depois a casa, há-de ser noite, mesmo sem escrita.
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