10/09/2021

PARNADA IDEMUNO - 757

© Berenice Abbott


757

Quinta-feira,
9 de Setembro de 2021

    Contado a direito, movimento descendente. A rua fervilha de operários & de escolares – todos em moção. É muito cedo, tudo parece possível. Não é contado no momento – são precisos outros mo(vi)mentos. Tem de morrer gente, nascer outra para ocupar as vagas. A força disto: como a do mar redesenhando a costa. Sem exotismo de postal-ilustrado, sem sublimação tosca: dar conta da vida em vidas. Resistir à invisibilidade da formiga: sim, também.
    Perspectiva aérea – precisa-se. Do passado como do intangível presente. Penso no Verão de 1982, depois no de 1999, nos dois ao mesmo tempo. Mesmo-tempo, disse? Mas só em escrita é possível, por mais improvável.
    Ainda ontem me senti agraciado pelo tempo pluvial. Fiz viagem breve com ida-volta sem surpresas. Não trabalhei muito. Apreciei a obra exposta de um hortelão. Sim, é mecânic’aótico o Tudo-que-É-&-Há. Nenhum teísmo. Nenhuma humanidade primordial. Um fósforo de consciência – e é tudo. Não é (não deve ser) assustador: não há mortos em pânico.
    Posso ir – e vou – por diante. Sim, um objectivo há que me seduz: o da pacificação interior. Desemaranhar pré-conceitos (herdados, adquiridos, casuais, sistemáticos, recorrentes, repetidos & repetitivos). E o Inverno de 92/93.
    Se, como em L.W., o que possa ser dito claramente, seja dito; o que não, não, então: eu vou de canoa no lago frígido, aponto a barca ao vértice invertido do fiorde, mas este é tão mais longínquo quão mais perseguido, um homem não é só de ferro, desço na margem norte, subo à casa que ali me fiz. E se isto não é claro, não sei que seja trevas.

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Canzoada Assaltante