07/06/2012

Rosário Breve n.º 262 - in O RIBATEJO de 7 de Junho de 2012 - www.oribatejo.pt


Volta, Zezé, que estás perdoado

Na canção “Mrs. Robinson”, a dupla Simon & Garfunkel inscreveu a nostálgica acção do Tempo em dois versos que ficaram famosos, qualquer coisa como – “Por onde andas, Joe DiMaggio? A Nação olha para ti com nostalgia.” Joe DiMaggio era estrela maior do “baseball” e apaixonado (até ao fim) pela ex-mulher, a tão doce quão amargurada e malograda Marilyn Monroe. E a que propósito vem isto? Vem a propósito de um relato do Correio da Manhã (CM) de terça-feira passada, 5 do corrente Junho. A páginas 17, fiquei a saber que “Cinco homens portugueses concorreram a um casting para filmes porno: nenhum conseguiu a erecção.
Oh Diabo! Oh DiMaggio! Era manhã cedo, a Rosa fazia 51 anos, ofereceu-me uma por conta da casa à nossa saúde. Escorropichei o cálice enquanto o raciocínio me fazia chegar à conclusão de que a culpa não era dos tais cinco molezas mas sim da famigerada Troika, esse paradigma da disfunção eréctil à escala antinacional.
Por curiosidade, eu tinha estado a ler um pouco antes a edição de 31 de Maio do noss’ O Ribatejo. Dois textos de diferente natureza editorial me provocaram viva e redobrada atenção. A páginas 4, a crónica do sempre excelente Dr. Eurico H. Consciência (intitulada “Claro que a honestidade compensa…”). E, a páginas 26, uma peça de João Baptista, lídimo chefe de redacção do nosso semanário, chamada “Quem tramou o comandante da GNR de Coruche?”. Que pedra-de-toque ligava estes dois escritos? Era a honestidade. E, a propósito dela, a galopante perda de valores sociocomportamentais que fustiga a nossa época. No caso do colunista, duas raparigas de hipermercado ficaram pouco menos que atónitas ante o facto de ele ter voltado a entrar no estabelecimento para pagar dois produtos que por lapso não tinham entrado na conta. No caso da peça sobre o sargento Sérgio Malacão, a exemplar alegoria de um profissional que, tendo seguido as regras e posto a casa em ordem, se vê na contingência de algum processo, quiçá despromoção, quiçá expulsão da força. Recomendo ao leitor a (re)leitura desses dois textos.
Parafraseando a tal canção, “Por onde andas, Honestidade? A Nação olha para ti com nostalgia.” Valores como a franqueza, o profissionalismo, a lealdade e a assertividade murcharam como aqueles cinco que queriam ser êmbolos da indústria porno. Quando mostrei a página do CM à Rosa, respondeu-me ela em suspirada nostalgia:
 – Já não há homens como antigamente…
Homens ainda há, digo eu. A Troika é que nos tem dado cabo dos Zezés Camarinhas, senhora Robinson.

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Canzoada Assaltante