Volta, Zezé, que
estás perdoado
Na canção “Mrs. Robinson”,
a dupla Simon & Garfunkel inscreveu a nostálgica acção do Tempo em dois
versos que ficaram famosos, qualquer coisa como – “Por onde andas, Joe DiMaggio? A Nação olha para ti com nostalgia.”
Joe DiMaggio era estrela maior do “baseball” e apaixonado (até ao fim) pela
ex-mulher, a tão doce quão amargurada e malograda Marilyn Monroe. E a que
propósito vem isto? Vem a propósito de um relato do Correio da Manhã (CM) de
terça-feira passada, 5 do corrente Junho. A páginas 17, fiquei a saber que “Cinco homens portugueses concorreram a um
casting para filmes porno: nenhum conseguiu a erecção.”
Oh Diabo! Oh DiMaggio! Era manhã cedo, a Rosa fazia 51
anos, ofereceu-me uma por conta da casa à nossa saúde. Escorropichei o cálice
enquanto o raciocínio me fazia chegar à conclusão de que a culpa não era dos
tais cinco molezas mas sim da famigerada Troika, esse paradigma da disfunção
eréctil à escala antinacional.
Por curiosidade, eu tinha estado a ler um pouco antes a
edição de 31 de Maio do noss’ O Ribatejo.
Dois textos de diferente natureza editorial me provocaram viva e redobrada
atenção. A páginas 4, a crónica do sempre excelente Dr. Eurico H. Consciência
(intitulada “Claro que a honestidade
compensa…”). E, a páginas 26, uma peça de João Baptista, lídimo chefe de
redacção do nosso semanário, chamada “Quem
tramou o comandante da GNR de Coruche?”. Que pedra-de-toque ligava estes
dois escritos? Era a honestidade. E, a propósito dela, a galopante perda de
valores sociocomportamentais que fustiga a nossa época. No caso do colunista,
duas raparigas de hipermercado ficaram pouco menos que atónitas ante o facto de
ele ter voltado a entrar no estabelecimento para pagar dois produtos que por
lapso não tinham entrado na conta. No caso da peça sobre o sargento Sérgio
Malacão, a exemplar alegoria de um profissional que, tendo seguido as regras e
posto a casa em ordem, se vê na contingência de algum processo, quiçá
despromoção, quiçá expulsão da força. Recomendo ao leitor a (re)leitura desses
dois textos.
Parafraseando a tal canção, “Por onde andas, Honestidade? A Nação olha para ti com nostalgia.” Valores
como a franqueza, o profissionalismo, a lealdade e a assertividade murcharam
como aqueles cinco que queriam ser êmbolos da indústria porno. Quando mostrei a
página do CM à Rosa, respondeu-me ela
em suspirada nostalgia:
– Já não há homens como antigamente…
Homens ainda há, digo eu. A Troika é que nos tem dado cabo
dos Zezés Camarinhas, senhora Robinson.
Sem comentários:
Enviar um comentário