© DA, Leiria, quarta-feira,
9 de Maio de 2012
Pela Cidade vou
sacudindo a lassidão digestiva, que o bom sol da tarde dezembrina faz aliás o
desfavor de ajiboiar mais ’inda. Estou capaz de bocejar até a dormir, mas nem
por isso menos g(r)ato à luz que estiliza casario e arvoredo e pessoas e curso
de água. Dada a crise da hidra-besta do hipercapitalismo, o comércio-natal
quase nem se nota (o que não me desagrada, sou sincero). Faço uns quilómetros
ainda bons, paro na Rosa um pouquito para meter gasosa, devolvo-me ao labirinto
arterial da urbe, de que, como eu, são constantes e instantes as sombras vivas
que na minha infância eram futuras – e que agora mais que isto não são:
passadiços presentes sem consequência nem importância.
De qualquer
maneira, isto é tudo fotografia e música é tudo isto: a sociedade acampada em
pedra que um rio circunscreve e um castelo vigia. Podia ser bem pior. Se não
tivera para café & cigarros, pior bem fôra, cá fora. Vale-me não ser
ingrato às gratificantes gratificações como:
a desta ninfa
quarentona à porta da senhora Genciana, musa de si mesma, serena morenidade e
circunspecta formosura, sabedora de um simples pé valer o dobro de dois passos
complicados, olhos a que a boca sobe palavras mudas, correctíssimo atavio de
sedas e lãs sobre o couro que as botas levantam a prumo ao delta genesíaco;
a deste homem
pequenito como um botão de cueca tão contente com a sua pochette e o seu
fato-de-treino e a evidência da sua vidinha organizada, que é como os botões
chamam às cuecas a que estão cosidos;
a do quase súbito
entorpenoitecer da luz pelas meras 16h49m, momento em que começa a fenecer o
morro ocidental da vista e em que a mortalidade arrepia atalhos rumo à
eternidade acabada ontem.
(E, nisto, vontade
de um chá à berma-lareira.)
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