Recordo horas boas: leitura de Proust,
Joyce, Mann, Durrell e Lowry. Más, também: muitas. Mais virão, de umas como de
outras.
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Vi uma mulher jovem cujo riso farfalhava
saúde mental. Também vi um cão absolutamente pensativo ao Sol que subia o Liceu
(da) Infanta D. Maria. Mantive aberta a porta de vidro de um centro comercial
para que um casal de cegos passasse sem estorvo. Olhei o carvão vivo de um
melro. Já fui incendiado petróleo numa cama de senhora. Avisei já as crianças
de fumar ser muito mau, muito mau. Vi o Chico M. ser arrumador de automóveis
para sustentar o pó. Famílias eu vi bordando a bolos-de-bacalhau, sardinhas
fritas, arroz-de-tomate e broa as humílimas barragens da nossa História
Hidroeléctrica. Relance-rápido: a minha Mãe em 1970, com precisamente a minha
idade-hoje, semeando gorda bonomia no areal da Figueira da Foz, o meu Pai vindo
aos sábados com o título nunca disputado e/ou recusado de Melhor Pai do Mundo –
e o Mar da Figueira, fonte não ainda de ânsia, ainda despovoado de ulisses-sozinhos-como-cães-batidos-pela-chuva.
Outro relance-rápido: não morrer sem ter vivido.
*
Visão: o senhor Manuel troca uma nota de
5inq0enta euros a uma senhora de fato saia-casaco
amarelo-canário-bico-de-melro-com-anemia. Educadíssima, a senhora, talvez
jurista, talvez purista, talvez turista, talvez naturista (mas não agora, agora
só precisada de trocos para a máquina de vend’automática de tabaco). Que natais
os desta vetusta moça, cujo encanecimento lhe reforça a tez rosácea, a labiação
elíptica e a correcção absolutamente ortoépica das sílabas que agradecem, a
Manuel, senhor, o troco?
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(Inglaterra e Argélia seguem empatadas a
zero [57m29s]. Bem a marimbar-se para isso, este V. amigo.)
*
Gosto muito de que um pedaço de metal
recortado se chame rosa-dos-ventos.
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Percebo a doença fundamental: Viver.
Percebo a cura fundamental: .
*
Luís Miguel Nava, tão moço, no cemitério de
Viseu.
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O
meu limbo é igual ao Vosso.
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