21/06/2012

IDEÁRIO DE COIMBRA - 19 - ainda de um dia de 2010 (sexta, 18 de Junho), estas palavras conimbricenses



Recordo horas boas: leitura de Proust, Joyce, Mann, Durrell e Lowry. Más, também: muitas. Mais virão, de umas como de outras.

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Vi uma mulher jovem cujo riso farfalhava saúde mental. Também vi um cão absolutamente pensativo ao Sol que subia o Liceu (da) Infanta D. Maria. Mantive aberta a porta de vidro de um centro comercial para que um casal de cegos passasse sem estorvo. Olhei o carvão vivo de um melro. Já fui incendiado petróleo numa cama de senhora. Avisei já as crianças de fumar ser muito mau, muito mau. Vi o Chico M. ser arrumador de automóveis para sustentar o pó. Famílias eu vi bordando a bolos-de-bacalhau, sardinhas fritas, arroz-de-tomate e broa as humílimas barragens da nossa História Hidroeléctrica. Relance-rápido: a minha Mãe em 1970, com precisamente a minha idade-hoje, semeando gorda bonomia no areal da Figueira da Foz, o meu Pai vindo aos sábados com o título nunca disputado e/ou recusado de Melhor Pai do Mundo – e o Mar da Figueira, fonte não ainda de ânsia, ainda despovoado de ulisses-sozinhos-como-cães-batidos-pela-chuva. Outro relance-rápido: não morrer sem ter vivido.

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Visão: o senhor Manuel troca uma nota de 5inq0enta euros a uma senhora de fato saia-casaco amarelo-canário-bico-de-melro-com-anemia. Educadíssima, a senhora, talvez jurista, talvez purista, talvez turista, talvez naturista (mas não agora, agora só precisada de trocos para a máquina de vend’automática de tabaco). Que natais os desta vetusta moça, cujo encanecimento lhe reforça a tez rosácea, a labiação elíptica e a correcção absolutamente ortoépica das sílabas que agradecem, a Manuel, senhor, o troco?

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(Inglaterra e Argélia seguem empatadas a zero [57m29s]. Bem a marimbar-se para isso, este V. amigo.)

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Gosto muito de que um pedaço de metal recortado se chame rosa-dos-ventos.

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Percebo a doença fundamental: Viver.
Percebo a cura fundamental:      .

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Luís Miguel Nava, tão moço, no cemitério de Viseu.

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O meu limbo é igual ao Vosso.

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Canzoada Assaltante