15/09/2011

Rosário Breve nº 224 - in O Ribatejo - www.oribatejo.pt - 15 de Setembro de 2011

Degrau a degrau enchem eles o papo

Escreveu com muito acerto Agustina Bessa-Luís: “Uma coisa que os Governos novos sabem é que têm de ter duas condescendências: para os que fazem rir e para os que não fazem nada.”
Muitos séculos antes, o mais brilhante cérebro que a Humanidade já produziu, Leonardo da Vinci, anotou: “Duas fraquezas que se apoiam entre si criam uma força. Assim se mantém firme cada metade do mundo, que se apoia na outra metade.”
A isto, Agustina contra(ou justa)põe: “O conde de São Marçal dizia, parafraseando, que a política se reduz aos espertos que querem subir e aos tolos que lhes servem de degrau.”
Como não era homem para desistir, Leonardo sublinhou: “Ao ajoelhar-se, um homem perde a quarta parte da sua altura.”
Gente que faz rir sem ser a malta gira do Gato Fedorento e gente que não faz nada, como o plantel do Sporting – ele há muita. Mas também há muita que faz coisas. Coisas que não fazem rir. Coisas como a privatização da água. Coisas como não taxar os grandes capitais e os descomunais patrimónios privados. Coisas como a desqualificação da carreira docente. Coisas como bater e matar a esposa. Coisas como a impunidade do enriquecimento ilícito. Coisas como o S da sigla PS: que já foi de Soares, de Santos (Almeida), de Sampaio, de Sócrates e que agora se pensa Seguro. Socialista é que nunca, olha quem.
Sim, os espinhaços ajoelhados são os mais propícios degraus para os galga-varas (perdão, valas…) e os fura-vidas da politiqueirice. Sim, mas nem para todos os que fazem rir, como aquele calamitoso furúnculo da Madeira que sabeis, há que ter qualquer condescendência.
O conde de São Marçal tinha toda a razão, embora conde. Do ponto de vista da física, Leonardo, é claro, tinha-a também. Mas do ponto de vista socioeconómico, não: a relação entre explorados e exploradores não é metade-metade. Os ladrões são sempre muito menos do que as vítimas. As esposas assassinadas são sempre muito mais do que os anos de cadeia impostos aos homicidas. E o rotativismo pós-25 de Novembro de 1975 (toma-lá-PS-dá-cá-PSD, essas duas fraquezas feitas conivente força) pode ser ridículo, mas não risível.
Um povo de joelhos também não.

4 comentários:

João Bicho disse...

Muito bom, Daniel... aliás, como sempre. Por isso é que nunca terás um lugar na política, ou melhor, nunca te darão poder na estrutura político-governativa!... Também por isso - tendo eu por lá passado - nunca mais quiseram nada comigo. É que, além da minha notória falta de capacidade para fazer rir, também sempre tive a mania de dizer que está mal o que me parece que o está!... Parabéns e um abraço.

Daniel Abrunheiro disse...

Verdade, amigo, aquela choldra pulha não é para nós.

Margarida Belchior disse...

Muito bem visto, Daniel! É preciso ir construindo as alternativas!
Beijinhos

Daniel Abrunheiro disse...

Obrigado, Margarida. Cá estamos e vamos.

Canzoada Assaltante