13. NOVENTA E QUATRO
Leiria, sábado, 9, e domingo, 10 de Abril de 2011
Enquanto o corpo me for dando, hei-de eu, como mais bem puder, ir aproveitando esta oportunidade de negócio chamada Vida. É trivial não sentir tal ante meu mesmo desconhecimento dos anos vindouros (se vierem, se o corpo se lhes for dando, natural, naturalmente). Mas – conheço eu, deveras e de facto, os anos já idos? Não é a memória uma reconstrução (=uma corrupção) lírica do (v)olvido? Penso nisto este sábado nesta Leiria da casa-de-pasto MonteCarlo (“Salvador”).
Fora a meteorologia é de abafo: suspeito uma iminência de trovoada.
*
Não se concretizou, afinal, a tempestade. Dia calmo. Conversámos a vida, fizemo-nos sorrir. A noite veio sem dor. Camarão e amêijoa para o jantar, angústia não.
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(O meu Pai completaria hoje, domingo, 10, 94 anos.)
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Algumas palavras do jornal do dia (porque elas formam poemas):
· ajuda social e económica
· na exaustão os recursos humanos
· notificado para ir amanhã
· uma frutaria em Benfica
· a carneirada ululante
· pela goela abaixo
· apagaram o fogo rapidamente
· ontem salvas de afogamento
· encontrada inconsciente
· mal lavrado
· buraco negro
· alvura celestial
· ajustamentos protelados custam mais
· o estado da rosa
· povo farto de furtos
· escondida no ânus
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